Tinham tudo para uma vida simples, anónima, mas acabaram por entrar para a História, não só da Igreja Católica em Portugal e no mundo, mas também da Humanidade, como testemunhas privilegiadas de aparições num pequeno local chamado Cova da Iria, perto de Fátima, no centro do país.
Como pequenos pastores que eram, ficaram para sempre conhecidos como “os Três Pastorinhos” ou “os Videntes de Fátima” a quem Nossa Senhora do Rosário apareceu por seis vezes em 1917, faz agora 100 anos.
Lúcia, na altura com 10 anos, e os seus primos Francisco, com 9, e Jacinta, com 7, irmãos, foram os escolhidos para receberem a Mensagem em que a “Senhora mais brilhante que o Sol” pedia orações, sacrifícios e reparação das ofensas ao seu Imaculado Coração e a Deus.
A Lúcia foi dado ver, ouvir e falar durante as Aparições, enquanto Jacinta podia ver e ouvir. Francisco podia apenas ver, pelo que a prima e a irmã lhe relatavam depois tudo o que tinham ouvido.
Das curtas vidas de Francisco e de Jacinta Marto, «as duas candeias que Deus acendeu para iluminar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas», como João Paulo II lhes chamou, há poucos registos biográficos. A mais importante fonte para o conhecimento sobre eles é constituída pelas Memórias de sua prima.
Nascidos ambos em Aljustrel, com menos de dois anos de intervalo, morrem pouco tempo depois das Aparições, tal como Nossa Senhora lhes tinha anunciado: «a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu [Lúcia] ficas cá mais algum tempo» (13 de junho de 1917).
Vidas breves, mas suficientes para que a Igreja Católica reconhecesse, pela primeira vez na sua história de 2000 anos, a “heroicidade das virtudes e a maturidade de fé de crianças não-mártires”, por decreto de João Paulo II, de 13 de maio de 1989, que abriu o precedente para o reconhecimento da sua santidade.
CANONIZADOS EM FÁTIMA
Francisco e Jacinta Marto foram canonizados no Santuário de Fátima, a 13 de maio, durante a Missa da primeira Peregrinação Internacional Aniversária do Centenário das Aparições, presidida pelo Papa Francisco.
Tornaram-se assim nos mais jovens santos não-mártires da história da Igreja Católica.
A decisão sobre o local e data da canonização foi anunciada hoje pelo Papa Francisco na reunião pública do Consistório, de 20 de abril, realizada no Palácio Apostólico do Vaticano.
O Santuário de Fátima voltou assim a ser o palco de uma cerimónia no processo de canonização de Francisco e Jacinta, depois de, a 13 de maio de 2000, João Paulo II ter presidido ali à beatificação dos dois videntes.
A canonização fora aprovada a 23 de março, quando o Vaticano anunciou que o Papa Francisco reconhecera o milagre atribuído a Francisco e Jacinta, última etapa do processo, iniciado há 65 anos.
O reconhecimento de um milagre realizado por sua intercessão depois da beatificação é um processo da competência da Congregação para a Causa dos Santos, regulado pela Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister , promulgada por João Paulo II em 1983.
No processo de Francisco e Jacinta Marto, foi aceite como milagre a cura milagrosa de Lucas, uma criança brasileira de cinco anos, que tinha caído de uma janela, a uma altura de 6,5 metros no dia 3 de maeço de 2013, ficando em coma, com perda de tecido cerebral no lóbulo frontal direito.
A oração das família e das irmãs do Carmelo de Campo Mourão, no Brasil, pedindo a intercessão de Francisco e Jacinta, resultou na cura total de Lucas, facto que os médicos não conseguem explicar..
A decisão da comissão de peritos ou científica sobre a aceitação do milagre foi posteriormente analisada por uma comissão de teólogos, que recomendou a aceitação à Congregação para a Causa dos Santos.
O decreto saído da Congregação, declarando santos os dois beatos, foi então submetido à aprovação do Papa Francisco, o que aconteceu a 23 de março deste ano.
A canonização é a confirmação, por parte da Igreja Católica, de que alguém é digno de culto público universal, podendo ser apresentado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.
A festa litúrgica de Francisco e Jacinta, até agora apenas a nível diocesano, ocorre a 20 de fevereiro, dia da morte de Jacinta.