O homem acusado pelo Ministério Público de ter matado uma mulher, com a ajuda da companheira, em Braga, disse esta quarta-feira em tribunal que foi a namorada a autora do crime.
Júlio Pereira de Araújo e Maria Helena Gomes começaram a ser julgados, no Tribunal de Braga, por homicídio qualificado, profanação de cadáver e burla informática.
Em causa está o homicídio de Maria da Graça Ferreira, em Novembro de 2020, num apartamento do bairro do Fujacal, em Braga. A vítima seria amante de Júlio, que no entanto mantinha uma relação com Maria Helena.
Na primeira sessão, a arguida não quis prestar declarações, o que pode ainda fazer durante o julgamento. A juíza-presidente do coletivo avisou-a de que, se não falar, será levado em conta o depoimento prestado durante o inquérito.
A acusação – recorde-se – diz que a vítima dormia num dos quartos do apartamento quando foi assassinada por asfixia com um pano com lixívia. O corpo foi levado, 24 horas depois, para um caminho rural em Montélios, onde foi encontrado por transeuntes.
O Ministério Público concluiu, com base no relatório da PJ/Braga, que foi Júlio quem a matou, para evitar que a vítima anulasse um testamento que havia feito a seu favor e que o crime teve a conivência da companheira. Ele namorava com as duas, mas inicialmente tinha dito à malograda Maria da Graça que a Maria Helena era sua prima.
Agora, Júlio Pereira de Araújo – aparentemente sereno e com um discurso coerente, embora com algumas contradições – contou que, pelas cinco horas da madrugada, depois de ter regressado de uma ida ao multibanco onde levantou 220 euros, supostamente a pedido da vítima, encontrou Maria Helena na cozinha da casa, «muito assustada e nervosa», tendo-lhe ela dito que acontecera algo grave à vítima.
«Fui ao quarto e encontrei-a quase a cair da cama, com um braço pendurado, e sem reacção Pensei que tinha desmaiado», disse, salientando que o quarto cheirava a lixívia e que só alguns minutos depois é que se apercebeu de que estava morta. «Comecei a chorar, a andar de um lado para o outro e entrei em pânico», declarou.
NÃO CHAMOU AMBULÂNCIA
Afirmou, ainda, que disse a Maria Helena – que, durante o julgamento, se manteve calada embora abanando a cabeça em sinal de discordância – que era melhor chamar uma ambulância e ligar à PSP, mas não o fez porque ela o ameaçou de que o incriminaria e diria que ele a assassinou por causa de a vítima querer anular o testamento que fizera a favor de Júlio.
Questionado sobre o facto de não pedir auxílio pela presidente do colectivo de juízes, o arguido afirmou que o fez por medo de ser incriminado por ela e que, por isso, decidiu que levariam o cadáver, na noite seguinte, e o abandonariam num caminho perto do apartamento onde a vítima vivia, em Montélios.
ELA DIZ QUE FOI ELE
Apesar de se ter mantido em silêncio, em declarações à PJ, Maria Helena contou que foi ele quem a assassinou e fez a reconstituição do crime.