O Tribunal de Aveiro condenou, esta segunda-feira, um homem a quatro anos de prisão efetiva por ter atirado dois tiros contra a ex-companheira, em Águeda. O crime terá sido motivado por ciúmes.
Em julgamento, ficaram provadas as acusações de ofensa à integridade física qualificada, detenção de arma proibida e violência doméstica. A juíza presidente defendeu que «a pena de quatro anos de prisão será efetiva, será mesmo para cumprir, pois a sociedade nunca compreenderia uma eventual pena suspensa, devido às grandes exigências de prevenção, geral e especial, neste tipo de crimes».
«O senhor disparou uma arma contra a mãe do seu filho», vincou. Disse, ainda, que nem o homem «nem ninguém tem o direito de controlar as pessoas, nem as suas relações amorosas».
Elias Monteiro Soares, depois de atacar a mulher, ajudou-a com os ferimentos, o que contou na condenação. Para a mesma, os três juízes consideraram, ainda, a confissão parcial dos factos.
Provou-se que Elias Monteiro Soares, baleou a vítima, bem como as acusações de crimes de violência doméstica, de agressões e de insultos, mas não o crime de tentativa de homicídio.
Os tiros, disparados à queima roupa, foram apontados contra órgãos vitais da vítima, como a cabeça, o que ficou provado em tribunal.
No entanto, como prestou socorro, o tribunal desagravou a qualificação jurídica dos factos, considerando-os não como tentativa de homicídio qualificado, mas antes ofensas à integridade física qualificada.
O homem vai ter, ainda, de pagar 15 mil euros à vítima como indemnização para além das despesas hospitalares, decretou o Tribunal Coletivo de Aveiro.
Homem esconde arma no hospital
O crime aconteceu a 19 de julho de 2024, quando o homem visitou o filho que o casal tem em comum, na altura com 16 meses de idade, depois do fim do relacionamento.
Foi até a casa da vítima com uma arma de fogo e, lá dentro, disparou duas vezes.
A acusação do Ministério Público diz que, pelo menos, um dos disparos foi efetuado na contra a cabeça da vítima, atingindo-a na região inframandibular. A rapidez da jovem, de 22 anos, em chegar ao Hospital de Aveiro salvou-a.
O ex-companheiro dirigiu a vítima para o hospital e, no caminho, a mesma foi auxiliada por um militar da GNR fora de serviço. O militar apercebeu-se de que a mulher tinha sangue, identificando o ferimento como causado por arma de fogo. Assim, ligou imediatamente para o Número de Emergência 112. O casal não quis esperar pelo socorro e seguiu no próprio automóvel do agressor até ao Serviço de Urgência do Hospital de Aveiro.
Elias Monteiro Soares, depois de a mulher estar aos cuidados hospitalares, escondeu a arma numa das casas de banho do hospital, sendo encontrada pouco depois.
A vítima foi transferida para os Hospitais da Universidade de Coimbra.
Arguido culpa drogas e diz que “andava de cabeça perdida”
O Ministério Público apontou, ainda, que entre os dias 11 e 19 de julho de 2024, «injuriou e ameaçou a vítima, desferiu-lhe duas bofetadas e cuspiu-lhe igualmente na face».
O homem, de 24 anos, confessou o crime e justificou que pensava que a companheira o traía.
«Eu não lhe queria fazer mal, eu só queria saber toda a verdade, com quem é que ela tinha estado», referiu.
Apontou, ainda, que depois desta confessar a traição, ele cometeu o crime. «Comecei a consumir drogas e naquela altura andava de cabeça perdida», acrescentou.
Vítima vive em medo
Jéssica Filipa Rodrigues Oliveira, a mulher atacada, pediu para prestar declarações na ausência do arguido. O mesmo só regressou à sala quando ela já não estava nas instalações.
A vítima contou que, enquanto dava banho ao filho, o arguido tocou à campainha e, quando ela lhe abriu a porta, viu-o a apontar-lhe uma arma. Só teve tempo de ir para o quarto e proteger-se com almofadas.
A mesma contou, ainda, que o arguido lhe deu bofetadas e murros, ficando cerca de um minuto ou dois a olhar para ela, com a pistola a cerca de dez centímetros da sua cara, «a ver para onde é que ia atirar», diz.
A mulher esteve internada durante cerca de meio ano e está a ser seguida pelos serviços hospitalares de psiquiatria. A mesma garante que continua a ter medo de sair à rua sozinha.
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