OPINIÃO

OPINIÃO -

Investimentos em equipamentos

Texto de João André Silva (Iniciativa Liberal Vila Verde)

É indiscutível que a construção e manutenção de infraestruturas é um dever do Estado e das autarquias locais. Estas infraestruturas são cruciais para o bem-estar e qualidade de vida das populações, abrangendo desde redes de estradas, sistemas de saneamento e redes elétricas até equipamentos destinados ao lazer, à cultura e ao desporto. Em qualquer comunidade, estes serviços são essenciais para o bem-estar das famílias e o desenvolvimento local.

Dentre as infraestruturas que servem a população, algumas são de acesso livre, como jardins e parques infantis, promovendo espaços de socialização e lazer que contribuem para melhorar a qualidade de vida. Outras, como pavilhões desportivos e centros culturais, com acesso condicionado, proporcionando a prática de atividades físicas, eventos culturais ou espetáculos, sendo igualmente essenciais para uma vida saudável e culturalmente rica.

No entanto, dada a realidade dos recursos financeiros limitados, cada investimento por parte das autarquias deve ser criteriosamente planeado. Não basta apenas a construção das infraestruturas; é necessário garantir a sua manutenção a longo prazo e avaliar o seu impacto na vida da comunidade. Não se pode correr o risco de grandes somas de dinheiro serem investidas em equipamentos que não cumprem os seus propósitos ou, pior, permanecem subutilizados ou encerrados, gerando frustração entre os munícipes.

Um exemplo claro da importância de um planeamento eficaz pode ser observado no município de Vila Verde. Em 2021, a Câmara Municipal anunciou a requalificação do edifício da antiga escola primária de Vila Verde, com o objetivo de o converter num Centro de Promoção de Gastronomia e Ciências Gastronómicas. Um projeto ambicioso, com um custo de cerca de 1.400.000€, que prometia transformar a antiga escola num ponto de referência para a promoção das tradições gastronómicas da região.

No entanto, apesar da obra estar aparentemente concluída, o edifício permanece encerrado. Não se observa qualquer atividade ligada à gastronomia, e nem mesmo a “Festa da Febra”, um evento integrado nas festas concelhias, se realiza nesse espaço, que parece reunir as condições ideais para o efeito. Este evento foi, nos últimos anos, realizado na Adega Cultural, outro projeto curioso da Câmara de Vila Verde.

A Adega Cultural é outro caso interessante. Em 2018, foi lançada a primeira pedra para a requalificação e ampliação da antiga Adega Cooperativa de Vila Verde, transformando-a num espaço cultural com um auditório e um museu dedicado ao mundo rural. Após anos de obras, em junho de 2023, a Câmara anunciou, no seu sítio na internet, a conclusão dos trabalhos, afirmando que o edifício agora dispõe de uma área coberta de 7.000 metros quadrados, que inclui espaços para exposições, uma zona museológica, e uma estrutura multiusos para eventos e espetáculos. Além disso, a área exterior será ligada ao futuro Parque da Vila, com 8.000 metros quadrados dedicados ao lazer e ao desporto.

Contudo, mais de um ano após esta suposta conclusão, o edifício da Adega continua rodeado de taipais. Embora vários eventos já se tenham realizado, incluindo a já mencionada “Festa da Febra”, não há ainda um programa cultural concreto para este espaço, nem se sabe ao certo quando será concluído o Parque da Vila. Para uma autarquia que investiu tanto em infraestruturas culturais, é preocupante a falta de clareza sobre a operacionalidade do equipamento e sobre os benefícios que este poderá trazer para a população.

É evidente que Vila Verde precisa de um espaço dedicado a espetáculos musicais, teatro e outros eventos culturais. No entanto, não basta apenas ter o edifício pronto; é imperativo que exista um programa sólido e regular de eventos, capaz de atrair público e de gerar receitas que sirvam para a sua manutenção. Sem este planeamento, mesmo um espaço moderno e bem equipado corre o risco de se transformar num elefante branco, um investimento elevado sem retorno para a comunidade.

Este tipo de situação levanta questões sobre a gestão dos fundos públicos e sobre o verdadeiro benefício que estas obras trazem para os cidadãos. Com as eleições autárquicas a aproximarem-se, suspeito que vejamos a inauguração destes espaços com grande pompa, numa tentativa de capitalizar os investimentos realizados. No entanto, a população deve estar atenta ao uso que será dado a estes equipamentos e exigir uma gestão eficiente, que vá além das cerimónias de inauguração e traga, efetivamente, benefícios duradouros para o concelho.

Em suma, a construção de infraestruturas e equipamentos para a comunidade é, sem dúvida, uma responsabilidade do Estado e das autarquias. Mas o sucesso desses investimentos depende de um planeamento cuidadoso e de uma gestão que assegure a sua manutenção e utilização eficaz. Sem isso, o risco é que os recursos públicos sejam desperdiçados em projetos que ficam aquém das expectativas, deixando a população sem os benefícios prometidos.

Partilhe este artigo no Facebook
Twitter
OUTRAS NOTÍCIAS

PUBLICIDADE