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Já chegou a Ponte de Lima o ‘touro’ de 500kg que vai animar a tradicional Vaca das Cordas

Já chegou a Ponte de Lima o touro de 500 kg que vai animar mais uma tradicional e secular ‘Vaca das Corda’, no final da tarde de quarta-feira, véspera do Corpo de Deus. Custou cinco mil euros e foi comprado na ganadaria Santos Silva, em Montemor-o-Velho, no distrito de Coimbra.

O touro já está no curral improvisado, nas instalações da Expolima.

Esta quarta-feira, dia 18, será transportado daquele local para a casa do Conde d’ Aurora de onde sairá, pelas 18h00, para as ruas da vila para cumprir uma manifestação que se encontra em fase de classificação como Património Cultural Imaterial.

Em fevereiro último, o Instituto do Património Cultural iniciou a consulta pública da classificação, prevendo-se uma decisão no prazo de 120 dias após a conclusão daquela auscultação.

UMA VACA QUE É TOURO

Apesar do nome “Vaca das Cordas”, o protagonista da tradição é um touro, que depois de “corrido” é vendido a um talho de Ponte de Lima para ser vendida a carne.

A manifestação, que se realiza sempre na véspera do feriado do Corpo de Deus, começa às 18h00, quando o animal é conduzido, a partir da Casa Conde d’Aurora, por cerca de dezena e meia de pessoas, preso por duas cordas, até à Igreja Matriz.

Aí é preso à janela de ferro da Torre dos Sinos, sendo-lhe dado um banho de vinho tinto da região, “lombo abaixo, para refrescar e retemperar forças”, conforme reza o costume local.

Dá depois três voltas à igreja, sempre com percalços e muitos trambolhões à mistura dos populares que ousam enfrentá-lo, após o que é levado para o extenso areal da vila, dando lugar a peripécias, com corridas, sustos, nódoas negras e trambolhões e até pegas de caras amadoras.

“É no areal que os mais valentes de aventuram a fazer umas pegas”, observou Aníbal Varela, o presidente da associação que organiza o ritual.

Nas ruas do centro histórico irá cumprir-se, madrugada dentro, a confeção dos tapetes floridos, por onde irá passar a procissão do Corpo de Deus.

DESDE 1646

A mais antiga referência que se conhece da “Vaca das Cordas” remonta a 1646, quando um código de posturas obrigava os moleiros do concelho (ministros de função) a conduzir, presa por cordas, uma vaca brava, sob condenação de 200 reis pagos na cadeia.

Mais tarde, segundo o Código de Posturas de 1720, a pena agravava-se para 480 réis. Diz a lenda que a Igreja Matriz, da primitiva vila, era um templo pagão dedicado a uma deusa, simbolizada por uma vaca.

Posteriormente, este templo foi transformado em igreja pelos cristãos que retiraram do seu nicho a imagem da “deusa vaca” e com ela deram três voltas à igreja, após o que a arrastaram pelas ruas da vila.

Daí virá o costume da “Vaca das Cordas”, um ritual que foi interrompido em 1881 pela vereação, tendo reaparecido por volta de 1922, para não mais deixar de se realizar apesar de nos últimos anos ser contestada por organizações e ativistas defensores dos direitos dos animais.

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