VILA VERDE

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Miguel Poiares Maduro diz que somos um ‘país pobre’ com ‘Estado Social Frágil’

O “Desenvolvimento Regional: Coesão e Assimetrias, Causas e Incentivos” foi o tema discutido, na noite desta quinta-feira, em Vila Verde, na Biblioteca Professor Machado Vilela. O orador, Miguel Maduro, ex-Ministro do Desenvolvimento Regional, diz que somos um país com crescimento económico insuficiente e novas desigualdades.


Segundo o mesmo, Portugal tem «um desenvolvimento assimétrico, longe das expectativas e desejos, apesar do país ter desenvolvido ao longo dos anos e temos, hoje, mais qualidade de vida do que há 50 anos», vinca. «Mas, infelizmente, não tiramos partido das oportunidades que tivemos», completa. Por isso mesmo, diz que «enfrentamos sérios problemas» e teremos «desafios significativos pela frente» para os quais «o país não deverá estar pronto».

Nos dias de hoje, em Portugal, «são necessárias 5 gerações para se subir de classe social». Além disso, «17% da população está em risco de pobreza», aponta Miguel Maduro.

A conferência inclui-se no programa “Aqui Há Cultura”, uma iniciativa da Escola Profissional Amar Terra Verde e da Biblioteca Professor Machado Vilela. A par da intervenção do também professor universitário, contou com um espaço de discussão aberta, permitindo questões por parte de quem assistia.

NOVAS DESIGUALDADES 

Miguel Maduro aponta que, por um lado, hoje vive-se a desigualdade territorial, o que tem «forte impacto na mobilidade social e assimetria de crescimento», refere. «O local de nascimento é o indicador que mais facilmente prevê o rendimento de cada um», exemplifica, ou seja, «nascer em territórios pobres» traz mais dificuldades a um indivíduo.

Por outro lado, há desigualdade «inter-geracional», expressa. Assim, as novas gerações, entre os 15 e 20 anos, têm «piores expectativas do que as anteriores», afirma. «Vive-se melhor», reconhece o mesmo. «Mas expectativas de crescer são menores», diz, apontando a habitação e seus problemas como exemplo.

PAÍS ESTAGNOU

Segundo Miguel Maduro, «o Estado Social está frágil», afirma. «Ao mesmo tempo que a nossa taxa de natalidade é baixa», o saldo migratório, até há pouco tempo, era negativo (saía de Portugal mais gente do que aquela que entrava).

Hoje em dia, o cenário da migração alterou-se, «mas mesmo assim não é suficiente para resolver algo que resulta de uma coisa boa, a esperança de vida alta», revela. Com um país envelhecido, há mais «beneficiários líquidos do Estado do que contribuintes».

Ou seja, há mais gente em idade de beneficiar e necessitar do Estado do que em idade de contribuir para o mesmo. Ainda, na idade mais avançada, destaca-se a «despesa na saúde», aponta ainda.

«Se tivermos uma percentagem cada vez menor de contribuintes, porque há cada vez menos pessoas a nascer e tivermos saldos migratórios negativos», ilustra Miguel Maduro, o que resta? «Ou cortamos os serviços públicos, ou endividamo-nos ou a idade ativa terá de pagar cada vez mais impostos», explica.

«Só podemos combater isto reconhecendo o problema estrutural e com taxas de crescimento económico de 5%, pois 2% não é suficiente», diz ainda.

DESCENTRALIZAR O INVESTIMENTO

Para Miguel Maduro, são precisas «políticas locais adequadas às necessidades e próximas das pessoas». Dá exemplo do caso de Austin, no Texas, nos Estados Unidos, onde esteve recentemente a testar carros sem condutor.

No início, admite, estava assustado. «Depois de quatro dias», conta, «vou usar esses carros em qualquer local que os tenha». Assim, defende que se testem «grandes inovações» de forma local, para «dar confiança» às pessoas. Em Austin, toda a cidade já se sente confortável em usar carros sem condutor, o que «a nível de um país inteiro, seria difícil fazer», completa.

Ainda, defende que se suprima «as necessidades de cada território para que cada um possa produzir os seus resultados, alinhando com os recursos que já existem», conclui.

ovilaverdense@gmail.com

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