Acho que ninguém tem dúvidas que vivemos tempos que prometem vir a ser conturbados com o agravamento do nível de vida dos portugueses. O aumento de custos da energia estão a afetar o dia a dia de pessoas e empresas; a inflação reflete-se na subida galopante de preços nos mais diversos bens essenciais; os combustíveis estão a preços nunca antes vistos; o preço das casas disparou. Com tudo isto, ainda perdemos poder de compra, restando, no final de cada mês, cada vez menos dinheiro na carteira dos portugueses.
Como se isto não bastasse, vemos a subida vertiginosa das taxas Euribor que se vão refletir no aumento das prestações do crédito habitação de muitos cidadãos, sabendo que a maioria dos portugueses opta, quase sempre, por créditos com taxa variável. Falam-se em subidas das prestações mensais que podem atingir os 59%. Os valores destes aumentos podem ser de cem, duzentos ou mais euros, dependendo do montante do crédito. De facto, notícias destas não auguram nada de bom.
A carteira de cada português está mais leve a cada mês que passa, mas a receita do Estado tem aumentado consideravelmente. Por isso, encaro esta fase como um momento oportuno para o Estado abrir mão de uma parte desse excedente orçamental para colocar do lado das pessoas. Estamos a bater recordes de carga fiscal! Sinto, no entanto, que se está a fazer pouco para ajudar os portugueses a atenuar os constrangimentos deste agravamento do nível de vida que ameaça fortemente o nosso bem-estar. Segundo uma sondagem do ICS/ISCTE, 48% dos portugueses consideram que vivem com dificuldades com os seus rendimentos atuais, necessitando de gerir o seu orçamento familiar, cortando em produtos essenciais para o seu quotidiano. Segundo esta sondagem, 62% dos portugueses cortou nos gastos de água, eletricidade ou gás; 37% nas despesas em bens de primeira necessidade e 19% em consultas médicas, medicamentos ou outras despesas em saúde. E, infelizmente, eu acho que esta “procissão ainda vai no adro”.
Em face disto, o que vemos é o governo a dar uma espécie de esmolas que não resolvem os problemas da vida das pessoas e que, talvez, só sirvam para silenciar alguns, vendendo gato por lebre. O Autovoucher foi um bom exemplo: Enquanto atestar o depósito de um carro ultrapassava os 100€, o governo dava uns módicos 5€ por mês para ajudar, ainda por cima, só a quem aderia ao programa. Entretanto, em Espanha, fazia-se um desconto imediato no ato da compra do combustível de 0,20€/litro, uma medida muito mais pragmática e com reflexos diretos na vida das pessoas. Também o adiantamento, já em outubro, de metade do aumento previsto para as pensões em 2023, é outro exemplo de uma medida em que o governo dá uma mão cheia de nada, ludibriando os cidadãos. Por causa disso, muito provavelmente, o aumento das pensões em 2024 será menor e, no longo prazo, os pensionistas perderão rendimentos. E, pior do que isso, há reformados que, por causa desse adiantamento em 2022, vão passar a pagar IRS, devolvendo, para o ano, ao Estado uma parte daquilo que o governo lhes dá agora.
Temos que ter a noção que a receita fiscal deste ano pode ficar 7 mil milhões de euros acima do previsto. Portanto, há margem para se fazer mais pelas famílias e engordar menos o Estado. Porém, o que vemos é um vazio de soluções para ajudar as famílias, aliado a um claro aproveitamento da iliteracia económica de muitos portugueses. O governo pode e deve fazer muito mais!