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Pescadores de Viana do Castelo pedem no Parlamento suspensão de projecto para eólicas que “faz fugir” peixe

Representantes de quatro associações de pescadores do distrito de Viana do Castelo apelaram esta quarta-feira, no parlamento, à suspensão e reavaliação do projeto do Governo que prevê a criação de cinco áreas de exploração de energias renováveis no mar.

A audiência em que participaram esta quarta-feira na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, em audição conjunta com a Comissão de Ambiente e Energia, os representantes das quatro associações de pescadores garantiram não estarem contra a instalação de parques eólicos offshore, mas criticaram terem sido “ignorados” durante a elaboração da proposta preliminar que prevê a criação de cinco áreas de exploração de energias renováveis no mar.

“Existimos, somos pessoas, sustentamos a economia de uma comunidade. Peço aos governantes, à Assembleia da República, que olhem para nós com olhos de ver, como pessoas que existem”, afirmou o presidente da Associação Profissional de Pescas do Rio Minho e Mar, em Caminha, Augusto Porto, apelando a que nesta fase preliminar sejam tidos em conta os contributos do sector.

Em causa está a proposta preliminar do grupo de trabalho constituído pelo Governo para definir áreas situadas ao largo de Viana do Castelo, Leixões, Figueira da Foz, Ericeira – Cascais e Sines para a implantação de parques eólicos ‘offshore’, sendo que os leilões para 10 gigawatts serão lançados, de forma faseada, até 2030.

O projecto para a criação de cinco áreas de exploração de energias renováveis no mar esteve em consulta entre 30 de Janeiro e o dia 10 de Março.

No distrito de Viana do Castelo, o projeto abrange uma área de 663 quilómetros quadrados.

Augusto Porto disse que os pescadores “estão alarmados” com a instalação de “um parque com uma dimensão enorme que vai condicionar uma comunidade piscatória com mais de 200 embarcações”.

O pescador apontou a instalação, há quatro anos, de três plataformas do projecto Windfloat Atlantic, ao largo de Viana do Castelo, como “um mau exemplo”, apelando a que não se “cometam os mesmos erros” com a proposta preliminar das eólicas no mar.

Aquele parque é composto por três plataformas flutuantes que sustentam turbinas com capacidade instalada de 25 megawatts (MW), ligadas a um cabo de 18 quilómetros, instalado a 100 metros de profundidade no fundo do mar, com capacidade para receber 200 MW de energia renovável.

“Há quatro anos os pescadores tiveram de se revoltar para mostrar que existem e querem ser chamados em tomadas de decisão que influenciam a sua actividade. Por termos barcos pequeninos sentimo-nos muitas vezes esquecidos, na ponta norte do país. Na altura, foram auscultadas só as associações com interesses económicos e esqueceram-se das pequenas comunidades, cuja existência está em risco”, sublinhou.

O presidente da Associação de Pescadores da Ribeira Minho, David Sanches, defendeu que o mais conveniente seria suspender o processo e repensar a colocação dos parques eólicos.

David Sanches disse que a localização dos parques eólicos no mar, no distrito de Viana do Castelo, também pode prejudicar a pesca no rio Minho”.

“A instalação dessas torres eólicas pode afugentar o peixe, não entrando no rio. Podemos perder a lampreia e o sável se o trajecto normal que estas espécies seguem for alterado”, alertou.

PEIXE FUGIU

A Associação de Pescadores da Ribeira Minho, com 10 anos de existência, representa 70 barcos e tem 136 associados.

O presidente da Associação de Pescadores de Viana do Castelo, António Coimbra, lembrou que o cabo que serve o projeto Windfloat Atlantic “afectou a pesca, porque o peixe fugiu, o que prova que não houve nenhum estudo impacto ambiental”.

“Por si só, o parque já nos tirou espaço de pesca a certo tipo de embarcações. Já tínhamos pouco espaço de pesca e agora temos muito menos”.

Além de “movimentar muito dinheiro”, disse António Coimbra, o impacto deste projeto na pesca vai repercutir-se em toda a economia local, sobretudo em empresas ligadas ao sector, comércio, restauração e o próprio turismo, atraído pelo bom peixe da região”.

António Coimbra frisou não estar contra a produção de energia limpa, mas disse não poder concordar “com a maneira como está a ser imposta e com as limitações diárias que estão a ser impostas aos pescadores”.

O presidente da Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos de Vila Praia de Âncora, Caminha Vasco Presa, destacou que “o país não tem meios de fiscalização aos parques eólicos previstos para o mar”.

“O país tem de pôr fiscalização para fazer cumprir a lei. A partir daí, se a lei for cumprida, se os apoios de pesca forem correctamente lançados, todos têm espaço para trabalhar”, referiu Vasco Presa.

Liliana Silva, vereadora da coligação O Concelho em Primeiro na Câmara de Caminha, a primeira a intervir na audiência de hoje motivada por um abaixo-assinado promovido pelos pescadores de Caminha, realçou “a necessidade de realização de um estudo de impacto ambiental, social e económico do megaparque que estão a quer impor” ao território.

“Os pescadores não foram ouvidos nesta proposta preliminar que não pode avançar sem que a classe piscatória seja auscultada”, frisou.

Na audiência intervieram os deputados Salvador Formiga, do PS, Jorge Mendes, do PSD, e João Dias, pelo PCP.

No final, o presidente da comissão parlamentar, o socialista Tiago Brandão Rodrigues, garantiu aos pescadores que “os deputados estarão atentos às preocupações” do sector.

“Sabemos que existem, necessariamente, em muitos destes momentos, interesses que não são concordantes. É preciso trabalhar para que os pescadores sejam ouvidos e, para que tudo o que aconteça possa ter a voz de quem trabalha no mar”, adiantou.

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