O projeto Native Scientists, que leva cientistas às comunidades migrantes e está nomeado para os prémios Novo Bauhaus Europeu, pretende cimentar a sua profissionalização a partir de Braga e Londres, as suas duas sedes, disseram à Lusa dois responsáveis.
“Dada a eficácia e o sucesso do programa, nós agora queremos crescer de uma forma estratégica e de uma forma profissionalizada”, disse à Lusa Joana Moscoso, bióloga cofundadora, com Tatiana Correia, do projeto criado em Londres há 10 anos, mas que também tem sede em Braga.
O projeto está nomeado para o prémio do tema “Reconquistar um Sentimento de Pertença” na categoria “Campeões da Educação” do Novo Bauhaus Europeu, iniciativa da Comissão Europeia lançada em 2021, sendo um dos seis projetos portugueses finalistas na cerimónia de atribuição dos galardões, marcada para quinta-feira, em Bruxelas.
O Native Scientists leva cientistas de comunidades emigrantes a escolas, incentivando os alunos das respetivas comunidades a experimentar e falar sobre ciência em oficinas na sua língua de herança, contrariando desvantagens educativas e socioeconómicas de uma aprendizagem na língua do país de acolhimento.
Tendo começado com a comunidade portuguesa e outras em Londres, o projeto expandiu-se e chegou a países como Portugal, Bélgica, Alemanha, França, Espanha, Áustria, Irlanda, Hungria, Países Baixos ou Suécia.
A responsável quer aproveitar a nomeação e o possível prémio de 30 mil euros para cimentar a profissionalização da organização, que também ainda conta com voluntários.
“Nós recentemente profissionalizámos, e neste momento somos seis. Ou seja, não só continuamos a ter a nossa equipa de voluntários e os cientistas que vão às escolas, os heróis do nosso programa que continuam a fazê-lo num regime de voluntariado, mas temos agora uma equipa remunerada central”, explicou a responsável.
Segundo Joana Moscoso, “a equipa está agora focada em crescer o impacto [do projeto] de uma forma estratégica e sustentada”.
Um dos funcionários a tempo inteiro, tal como a diretora Joana Moscoso, é Afonso Bento, formado em antropologia e sociologia, responsável pelo projeto com as comunidades migrantes.
Afonso Bento considera “que muitas vezes existe a ideia de que não se deve usar a língua de herança, que a língua de herança, em si, é um ‘handicap’, e não é, é uma valência”, algo que é explorado nas sessões com os alunos, que normalmente têm “quatro cientistas diferentes”.
“Nós fazemos aquilo que se chama um modelo carrossel, ou seja, quatro cientistas diferentes vão montar quatro estações diferentes, cada uma com a sua atividade, e depois grupos de alunos vão interagindo com cada estação e com cada cientista de forma sucessiva, até todos os alunos e alunas falarem com todos os cientistas”, explicou.
Os cientistas tentam “perceber qual é o capital linguístico de cada um dos alunos e ter uma atitude diferenciada, porque nem todas as crianças têm a mesma aptidão quer para a língua, quer para o conteúdo científico”.
Segundo Joana Moscoso, o público-alvo vai “dos 6 aos 12 anos”, sendo aí que a Native Scientists “gosta de intervir, porque entre os 10 e os 14 anos há um declínio abrupto no interesse pelas ciências”.
“A nossa filosofia é atuar imediatamente antes disso acontecer, ou durante essa fase”, explica a responsável.
Os galardões Novo Bauhaus Europeu visam distinguir projetos ambientais, económicos e culturais que combinem sustentabilidade, acessibilidade de preços e investimento, para enquadrar a transição climática e a mudança cultural, como propõe o Pacto Ecológico Europeu, tendo este ano sido selecionados 61 finalistas.