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Quando o Estado joga ao Monopoly

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Artigo de Luís Sousa, médico

“Milhões a voar” é o título de um livro promovido pelo instituto +Liberdade, da autoria de Carlos Guimarães Pinto e André Pinção Lucas. São cerca de 150 páginas onde se esmiúçam vários argumentos que tentam explicar, na visão dos autores, o erro que foi a reversão da privativação da TAP aquando o primeiro governo do PS pós-Troika. Milhões a voar poderia ser o título de uma qualquer crónica sobre este país «à beira-mar plantado» pois o que mais se vê são os euros dos contribuintes a esvoaçarem por aí. Pouco me ouviriam falar sobre a elevada carga fiscal que temos em Portugal se visse o nosso dinheiro bem aplicado. Se visse que todos tínhamos acesso ao SNS sem as restrições que conhecemos, se víssemos os tribunais a funcionar de forma célere ou se tivéssemos uma administração pública eficiente e menos burocrática.

Depois dos 300.000€ da Câmara de Caminha para um pavilhão que nunca existiu nem se prevê existir, também não percebo como é possível uma gestora de uma empresa pública intervencionada pelo Estado auferir um salário de mais de 17.500€. E claro que me espantam os 500.000€ como contrapartida pela cessação da relação contratual com a TAP porque a CEO da empresa não a queria naquela função. Acho tudo isto obsceno, sobretudo numa empresa que recebeu 3,2 mil milhões de euros do Estado Português. Escrito assim até perdemos a noção da verdadeira magnitude deste valor, mas é um número cheio de zeros: 3.200.000.000 €. Já o disse noutra crónica, neste mesmo jornal, que esta injeção na TAP é comparável à despesa que, no último Orçamento de Estado, alocamos à Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (3.300 milhões) e é superior ao que se prevê gastar na Justiça (1.700 milhões), na Defesa (2.500 milhões), na Segurança Interna (2.500 milhões), na Agricultura (1.500 milhões) e na Cultura (759 milhões). Houve até quem fizesse outras contas: as políticas sociais do PS custam 792 milhões, valor abaixo da última tranche de 990 milhões que foi transferida para a TAP em despacho recente assinado por Fernando Medina. Os 3.200 milhões transferidos para a TAP representam uma intervenção pública com demasiado peso para a nossa realidade económica, bem acima, daquilo que vimos noutros países, com outras companhias aéreas.

É preciso relembrar que a decisão de privatizar a TAP veio no seguimento do memorando de entendimento com a Troika, assinado pelo governo do Partido Socialista que, mais tarde, entendeu reverter esta privatização, talvez por birra ideológica ou para fazer ver aos parceiros de esquerda que sustentaram a geringonça no primeiro mandato de António Costa. Muito se argumentou contra a privatização da TAP. Muito se falou. Muito se gastou. Entretanto, como no Monopoly, muitos milhões voaram até voltarmos, novamente, à “Casa da Partida” que é como quem diz, à privatização que tanto diabolizaram. E assim, seguimos caminho, confiantes que, tal como no jogo, cheguemos, um dia, a uma qualquer Casa da Sorte.

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