ENTREVISTA

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Tony Soares pela Grande Rota do Douro Internacional entre cães, paisagens que alimentam a alma e bike embalada em sacos de lixo

Tony Soares é um daqueles atletas que escapam aos holofotes da imprensa desportiva. Natural de Santa Maria de Bouro, Amares, conta, desde 2007, com dezenas de participações em maratonas, raids e passeios Btt por todo o país, com as cores dos CisterBtt os Monges da Bicicleta, um grupo de amigos que têm na ‘bike’ um gosto comum.

A sua última aventura a solo aconteceu entre 2 e 5 de Junho na Grande Rota 36 – Douro Internacional (GR36), uma participação que começou a ser preparada em 2020, mas que a covid-19 obrigou a adiar.

Tony Soares, 44 anos, conta que com a ajuda de João Martins, “o arquitecto” da GR36 – uma rota com 177 kms que atravessa o Parque do Douro Internacional entre o Planalto Mirandês e as arribas do rio Douro, através de quatro municípios, só foi “em definitivo” para a estrada “logo que a pandemia deu ‘luz verde’ para andar na rua mais livremente”.

“Trata-se de uma longa rota, com trechos difíceis, mas com a recompensa de podermos ver e sentir paisagens fabulosas, fantásticas e memoráveis sobre o rio Douro, o planalto Mirandês, a sua ruralidade e as suas gentes”, conta Simões, frisando que, “durante esta epopeia”, nunca se sentiu só.

“As paisagens que ia absorvendo alimentavam-me a alma e a satisfação de estar a viver algo de extraordinário. Vi paisagens fabulosas que só de bicicleta ou a pé é possível ter acesso. Falei com pessoas que ficavam admiradas a olhar para mim e para a bicicleta e a perguntar “está a fazer isto tudo sozinho?”. São coisas que ficam na nossa memória”, explica.

Realidade triste numa rota fabulosa

Ao longo dos quase 200 kms da rota, foram muitas as peripécias que viveu e que agora conta com um sorriso aberto. “Tive alguns sustos e todos eles passados com cães…”, adianta. “Cães de guarda aos rebanhos que ia cruzando pelo caminho”, esclarece. “Pelo menos uma vez, estive mesmo ‘entalado” e não fosse o rápido aparecimento do pastor, se calhar…”.

Também passou por momentos de grande dureza, sobretudo no último dia em que a rota se afasta das margens do Douro e emerge para o interior do planalto mirandês. “Aqui apanhei um rol de subidas íngremes e intermináveis, entre socalcos de vinhedos e amendoeiras que me colocavam à prova em termos psicológicos”.

Sob um calor “imenso” viu-se obrigado a empurrar uma bicicleta que, carregada, pesava cerca de 24 quilos e a resolver um par de furos.

Como se sabe, um azar nunca vem só: “Uma outra dificuldade que encontrei, e que nada tem a ver com a GR36, são os problemas que continuamos a ter em viajar de comboio com uma bicicleta. É uma realidade triste em Portugal e que parece não ter fim. Fui impedido de viajar no comboio das 15h15 com partida do Pocinho, mas o  chefe da estação e uma outra empregada da CP  ajudaram-me a embalar a bicicleta em sacos do lixo. Depois falaram com o revisor do comboio das 17h00, que lá me deixou viajar…”, recorda.

“Foram momentos de alguma tensão interna, mas que com calma consegui ultrapassar”, terminando “uma rota fabulosa a todos os níveis e que recomendo vivamente a quem a queira percorrer e vivenciar algo de diferente, quer de bicicleta ou a pé”.

Um relato que brevemente pode ser visto em https://cistermongetonys.blogspot.com/…”

Superar os limites de mala às costas

Tony Soares, residente em Caldelas, nunca competiu a nível federado ou contar para qualquer campeonato.

“Apenas competi para superar os meus limites e fazer sempre o melhor possível, o melhor que a minha condição física me permitiu ou permite fazer. Não treino para obter grandes classificações porque nunca foi esse o meu verdadeiro objectivo e propósito”, explica.

“Treino para me desafiar a chegar o mais longe e o mais rápido possível e chegar ao fim das corridas ou aventuras. As classificações finais vêm por acréscimo e em terceiro plano”, assegura.

É um dos CisterBtt os Monges da Bicicleta, um grupo de amigos que desde 2007 corre o país para participar nas mais variadas provas de bicicleta. Um atleta do grupo, com sede em Amares, chegou mesmo a competir, entre 2011 e 2015, nas provas da Taça de XCM.

Tony explica o estranho nome do grupo. “O nosso nome, logótipo e cores do equipamento derivam do facto de termos na freguesia um mosteiro da Ordem de Cister e onde as cores dominantes dos hábitos dos monges ser o branco e o preto”.

Projectos são coisa que não falta ao grupo. “Aventuras nos Caminhos de Santiago temos várias. Falta apenas o Caminho mais mítico que é o Caminho Francês porque ainda não conseguimos agilizar datas para que todos possam ir. Mas há-de chegar o dia”, afirma confiante.

Já têm agendadas participações nos Granfondos de Monte Ézaro na Galiza, Lousã e Torres Vedras e em Btt nas provas por etapas do Vila do Conde-Peneda Gerês Extreme e no Race Nature de Mondim de Basto. Estas duas provas por etapas são percorridas em duplas.

Tony Soares conta com inúmeras provas entre as quais Maratona Btt Xurês-Gerês (Lobios/Espanha); Maratona Btt Vale do Vouga (Águeda); Maratona Internacional Idanha a Nova Zarza La Maior, Maratona Btt Eurocidade Valença – Tui, Maratona de Melgaço, Rota da Laranja (Amares), Btt Sobreiro Curvo (Torres Vedras) Maratona Por Terras de Mar (Armação de Pêra/Algarve.

Desde 2016 está “mais virado e mais focado” para as provas de resistência, provas por etapas, nomeadamente o Douro Bike Race, Vila do Conde-Peneda Gerês Extreme, Tex dos Templários (Tomar), Geo Tour – Rotas Míticas (Fundão) e várias etapas do Race Nature.

A solo, percorreu, em três dias, o Caminho Português com partida do Porto, e a Costa Atlântica desde Torres Vedras, noutros tantos dias. No mesmo tempo percorreu as vias férreas transformadas em ciclovias do Ramal de Guimarães-Fafe, a Linha do Tâmega (Arco do Baúlhe-Amarante), a Linha do Sabor (Pocinho-Carviçais-Pocinho) e Linha do Corvo (Régua-Vila Real –  Régua).

Em dois dias a Linha do Vouga (Macinhata do Vouga – Viseu) e a Linha do Dão (Viseu-Santa Comba Dão) e, por último, a Grande Rota 36 em quatro dias.

Pelo meio umas quantas aventuras com as “malas às costas”, isto é, vários dias de bicicleta com ‘malas’, os chamados alforges, acopladas à própria bicicleta e em autonomia.

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