É o segundo grande processo a Norte com raiz nos sites OLX, Stand Virtual e Custo Justo. Isto porque os 120 crimes em causa foram maioritariamente praticados na comarca de Braga e 25 dos 27 arguidos foram já julgados, em 2018, no Tribunal local por burlas idênticas na compra de carros publicitados na Internet.
O Tribunal de Instrução de Matosinhos acaba de pronunciá-los por 120 crimes de burla, furto qualificado, falsificação de documentos, receptação e branqueamento de capitais. Ao todo, lesaram 23 pessoas.
A maioria dos arguidos é de Braga, embora alguns sejam da Póvoa de Varzim, Vila Nova de Gaia, Guimarães, Gondomar e Almeirim.
Entre os principais arguidos está Jorge Ferreira, um empresário do ramo automóvel de Braga, a quem a PJ apreendeu, em casa, 200 mil euros em notas e que tinha um armazém em Soutelo, Vila Verde, onde, alegadamente, guardava e desmantelava os carros furtados.
O Tribunal de Instrução de Matosinhos despronunciou-o de dois crimes de receptação, pronunciando-o por outros 29, 26 de receptação e três de falsificação de documentos.
O MP pede a perda a favor do Estado de um total de 2,045 milhões de euros, que lhe foram encontrados na investigação da PSP e que são considerados “património incongruente”, ou seja, obtido sem justificação contabilística e fiscal.
FICOU COM 26 CARROS
A acusação considera que ficou com 26 veículos comprados ao gangue. A maioria destes foi desmantelada, para comercialização de peças, para Portugal ou para o estrangeiro, ou para aplicar em veículos salvados. Falsificando dados do motor, do chassis e das matrículas.
Fazia-o numa garagem em Dume, numa oficina em Gualtar e também num pavilhão em Soutelo, Vila Verde.
O conto do vigário – diz a acusação – tinha origem na publicitação na internet de anúncios de venda de carros em sites que nada tinham a ver com as burlas. As vítimas foram pessoas de Braga, Barcelos, Famalicão, Póvoa de Varzim, Porto e Vila Nova de Gaia.
CRIMES FORAM EM BRAGA
O processo decorreu em Matosinhos, dado que o primeiro crime foi ali praticado, mas a maioria dos ilícitos ocorreu em Braga, pelo que o julgamento pode ali realizar-se, dependendo do juiz.
O esquema passava pelo “pagamento” com depósito de cheques inválidos, de terceiros, que nunca obtinham cobrança ou através de transferência bancária. E o vendedor ficava sem viatura e sem dinheiro.
O MP concluiu que um grupo seleccionava os carros de gama alta e ligava para os proprietários. Depois de combinarem um encontro “para ver o carro e fazer negócio”, apresentavam-se às vítimas como se fossem parentes dos que haviam telefonado antes.
Usavam telemóveis com cartões pré-pagos, dispondo-se, em alguns casos, a pagar as despesas de deslocação do vendedor. E pediam o NIB – Número de Identificação Bancária. Quando este aparecia, o comprador desculpava-se dizendo que era filho ou sócio da pessoa que compraria o veículo.
Outro grupo ficava com a tarefa de ir ao banco depositar cheques inválidos na conta do vendedor, para que este, face ao talão de depósito e confirmando que o dinheiro já tinha “caído” na conta bancária, passasse a declaração de venda e entregasse o livrete. Os cheques eram ou furtados ou extraviados e o depósito anulado.
Uma terceira parte dos arguidos tratava de vender os carros ou, quando tal não era possível, encaminhava as viaturas para serem desmontadas e vendidas por peças, maioritariamente ao receptador.