Na sua autobiografia “Esperança”, Papa Francisco critica o tradicionalismo católico, mostrando apoio a divorciados e homossexuais. O livro fica hoje disponível nas livrarias.
O populismo e o seu aumento também são alvo de preocupação do sumo sacerdote. O populismo é composto por «promessas que se baseiam no medo, acima de tudo, o medo do outro são a censura habitual dos populismos e o início das ditaduras e das guerras. Pois para o outro, o outro és tu», escreve.
A declaração das “bençãos irregulares”, subscrita pelo mesmo, também é referida. Esta é sobre divorciados ou católicos que não atendem aos preceitos da doutrina, divulgada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé em dezembro de 2023.
«Abençoam‑se as pessoas, não as relações», aponta. «Na Igreja, são todos convidados, mesmo as pessoas divorciadas, mesmo as pessoas homossexuais, mesmo as pessoas transexuais», continua.
E recorda a «primeira vez» de «um grupo de transexuais» no Vaticano. «Saíram a chorar, comovidas porque lhes tinha dado a mão, um beijo… Com se tivesse feito algo de excecional para elas. Mas são filhas de Deus!», conta.
«Podem receber o batismo nas mesmas condições dos outros fiéis e nas mesmas condições dos outros, podem ser aceites na função de padrinho ou madrinha, bem como ser testemunhas de um casamento», completa, mostrando que não está de acordo com as leis contra a homossexualidade.
«São mais de 60 os países no mundo que criminalizam homossexuais e transexuais, uma dezena até com a pena de morte, que por vezes é efetivamente aplicada», continua.
O Papa afirma que «a homossexualidade não é um crime, é um facto humano e a Igreja e os cristãos não podem, por isso, permanecer indolentes diante desta injustiça criminosa».
«Os pecados sexuais são aqueles que a alguns causam mais rebuliço», escreve, ainda. Para o Papa, esses “pecados” «não são, de facto, os mais graves», mas antes outros como «a soberba, o ódio, a mentira, a fraude ou a prepotência».
«É estranho que ninguém se preocupe com a bênção de um empresário que explora as pessoas, e esse é um pecado gravíssimo, ou com quem polui a casa comum, enquanto se escandaliza quando o Papa abençoa uma mulher divorciada ou um homossexual», aponta, por fim, no seu livro com mais de 350 páginas.
Já sobre um regresso ao tradicionalismo, como é caso das missas em latim, pré-Concílio Vaticano II, Francisco garante que só acontecerá em «casos particulares», já que «não é saudável que a liturgia se torne ideologia».
Papa defende povo ucraniano
Quanto à Ucrânia, Francisco escreve que, no dia a seguir à invasão da Rússia, cancelou as audiências e foi para a embaixada russa na Santa Sé.
«Era a primeira vez que um Papa o fazia», conta, e «foi um Papa claudicante que se apresentou ao embaixador Avdeev para exprimir toda a preocupação».
«Implorei o fim dos bombardeamentos, augurei o diálogo, propus uma mediação do Vaticano entre as partes, dizendo estar disposto a ir a Moscovo o mais depressa possível», conta. O ministro dos Negócios Estrangeiros disse-lhe, no entanto, que «não era o momento».
«O povo ucraniano não é apenas um povo invadido, é um povo mártir, perseguido já nos tempos de Estaline com um genocídio por fome, o Holodomor, que causou milhões de vítimas», diz o Papa. «Os interesses imperiais, de todos os impérios, não podem, uma vez mais, ser postos à frente das vidas de centenas de milhares de pessoas», completa.
«Atualmente, existem 59 guerras em curso no mundo: conflitos declarados entre nações ou grupos organizados, étnicos, sociais», recorda o Papa.
Este facto «deveria bastar para desmascarar a insensatez da guerra como instrumento de resolução dos problemas: é apenas uma loucura que enriquece os mercadores de morte e que os inocentes pagam», terminou.
«Aquela democracia pela qual os nossos avós lutaram em tantas partes do mundo, não parece gozar de ótima saúde, exposta também ela ao risco de uma virtualização que substitui a participação ou o vazio de significado», acrescenta, preocupado com um «sistema informativo baseado nas redes sociais, nas mãos de poderosíssimas oligarquias».
«A Igreja seguirá em frente, na sua história»
É a frase escrita, pelo Papa Francisco, para o futuro da Igreja.
«Eu sou apenas um passo», diz, «o papado amadurecerá; eu espero que amadureça, olhando também para trás, que assuma cada vez mais o papel do primeiro milénio».
Para Francisco, a Igreja deve «sair da rigidez, o que não significa cair no relativismo, mas seguir em frente», «escapar à tentação de controlar a fé, pois o Senhor Jesus não deve ser controlado, não precisa de cuidadores nem de tutores», defende.
O livro “Esperança”, foi escrito pelo Papa Francisco com colaboração com Carlos Musso. Esta terça, chega às livrarias para assinalar o Jubileu da Igreja Católica, dedicado ao mesmo tema.
Na obra, Francisco conta as suas origens, ainda sendo Jorge Bergoglio, nascido em 1936, filho de imigrantes italianos, bem como o seu percurso até aos dias de hoje.
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