Aquando do início da pandemia habituamo-nos a uma forma diferente de interagir entre nós, assegurando os devidos distanciamentos, fazendo uso de máscaras ou separados por acrílicos para impedir eventuais contágios. Foi desta forma que, por estes anos, fomos controlando, na medida do possível, a propagação de uma infeção que combatemos sempre na lógica de prevenção. Valeram-nos, neste período, as novas tecnologias que nos permitiram, por um lado, manter informados e, por outro, nos atenuaram as distâncias físicas que fomos mantendo em relação aos nossos familiares e amigos. O distanciamento social foi difícil, mas foi, também, sem qualquer margem para dúvidas, uma peça chave importantíssima de combate à pandemia pois reduziu contágios que, de outra forma, subiriam a uma escala ainda maior do que aquela que se verificou. É minha perceção que os portugueses souberam acolher muito bem, na generalidade, as indicações que as autoridades de saúde nos foram dando. Também foi relevante o modo como aderimos à vacinação contra o coronavírus que nos ajudou a regressar mais rapidamente a uma forma de vida mais próxima do normal.
Em todo este processo de combate à pandemia, quero destacar, concretamente, o papel da Igreja Católica que tem sabido ocupar o seu lugar, respeitando e acatando as diretrizes e orientações das autoridades de saúde. Manifestou sempre uma profunda coerência e respeito pelo próximo e esteve sempre em linha com a defesa do valor inestimável da vida. A Igreja Católica contribuiu, por isso, para a preservação da saúde pública ao fazer, corajosamente, aquilo que nunca, na sua história, aconteceu, como suspender todas as celebrações religiosas quando foi necessário e retomá-los de forma oportuna e com enorme sentido de responsabilidade, respeitando os momentos de transição e adaptação. A Igreja soube adaptar-se às novas circunstâncias, tanto quanto os cidadãos comuns o fizeram, propondo formas alternativas para vida na fé e recorrendo às redes sociais e às novas tecnologias para chegar aos seus fiéis que, assim, encontraram formas alternativas de viver a sua fé. Houve muitos sacerdotes, alguns no nosso concelho, que transmitiram as suas celebrações pela Internet. Em Vilarinho, por exemplo, em determinadas alturas, celebraram-se missas em espaços exteriores, concretamente no Monte das Oliveiras, junto aos Escadórios, que permitiram mais distanciamento físico e, portanto, mais segurança para todos. Enfim, foram inúmeras as formas de viver a fé que atenuaram os constrangimentos da época.
Acredito que, felizmente, estamos em vias de virar a página desta pandemia que apesar de tudo ainda não está no ponto que todos já desejaríamos. Por isso, louvo a iniciativa da Igreja Católica de retornar à celebração tradicional da Páscoa, um dos pontos altos da vida de fé dos Cristãos. As celebrações realizam-se conforme a tradição, apesar de algumas limitações que a prudência nos pede. As recomendações da Conferência Episcopal Portuguesa com as orientações a seguir pelos fiéis durante a visita pascal, não sendo excessivas, parecem-se sensatas. É mais um pequeno passo dado rumo a uma vida que desejamos que seja cada vez mais normal. De todas as recomendações, é minha opinião pessoal que a recomendação de venerar a cruz com uma vénia ou outro gesto em vez do tradicional beijo é uma alteração no modo de celebrar que deve, no entanto, manter-se para o futuro.
Um bem-haja à Igreja Católica por ter sabido, ao longo destes dois anos, ocupar o seu lugar, valorizando e protegendo o valor da vida.