Seria de esperar que com a evolução da humanidade a nossa confiança na ciência se tornasse mais robusta. Porém, parece-me que o caminho tem sido trilhado no sentido contrário ao desejável numa sociedade comumente catalogada como a “sociedade da informação”, mas onde a desinformação vai ganhando preponderância nas mais diversas áreas e setores.
No que toca à desinformação em ciência, os movimentos anti vacinação disseminam-se nas redes sociais e na Internet e a (des)informação espalha-se como metástases, colocando em risco a saúde e, por vezes, a vida de pessoas que acabam, infelizmente, por “comer o que lhes dão” sem questionar ou colocar em causa, não tendo qualquer discernimento ou meios para procurar distinguir o trigo do joio. Em 2019, aliás, a Organização Mundial da Saúde considerou a hesitação vacinal como uma das dez principais ameaças globais à saúde pública. Os movimentos anti vacinas florescem como ervas daninhas no meio do prado, mesmo sabendo-se que a vacinação é uma das formas mais custo-efetivas para prevenir a doença e que, no geral, previne 2 a 3 milhões de mortes por ano no mundo, números que aumentariam em 1,5 milhões se fosse melhorada a cobertura mundial da vacinação.
Sobre as vacinas contra a COVID-19, somam-se os disparates mais sui generis, alimentados, sobretudo, pelos amantes das teorias da conspiração. Já se disse que a “pandemia da covid-19 foi construída em laboratórios e é apenas um plano para que Bill Gates possa plantar um chip que servirá para monitorizar a população humana” ou que a vacina pode alterar o nosso ADN. Enfim, há teorias para todos os gostos que davam um bom argumento para um filme de ficção científica. Entretanto também já foi noticiado que um “enfermeiro testa positivo à covid-19 uma semana após ser vacinado” com a primeira dose, alarmando e semeando-se na opinião pública escusadas desconfianças. Sabe-se, à luz dos resultados obtidos no ensaio de fase III da vacina da Pfizer-BioNTech, que a eficácia da vacina após a primeira dose é bastante inferior à eficácia alcançada com as duas administrações (52% versus 95%).
Estas vacinas demonstraram ser seguras e eficazes e os efeitos colaterais mais comuns incluem dor no local da injeção, febre, fadiga e dor de cabeça. Apesar do tempo recorde com que chegaram ao mercado, passaram pelos mesmos ensaios clínicos que qualquer outra vacina: Estudos pré-clínicos, ensaios clínicos de fase I, fase II e fase III. Os ensaios de fase III, que antecederam a aprovação das vacinas, visaram determinar se as vacinas impedem a infeção. Envolveram um vasto número de indivíduos divididos em dois grandes grupos: o grupo controlo (a quem é administrado um placebo) e outro que recebeu a vacina em estudo. Os ensaios de fase III da vacina da Pfizer-BioNTech envolveram mais de 36 mil participantes e os da Moderna envolveram 30 mil pessoas, demonstrando uma eficácia de 95% e de 94,1% na prevenção da COVID-19 após a administração da segunda dose da vacina, respetivamente.
As vacinas da Pfizer-BioNTech e da Moderna foram as primeiras vacinas para o SARS-CoV-2 a serem produzidas. Ambas as vacinas são de RNA, não contêm o vírus nem podem, jamais, provocar infeção.
O processo de vacinação ainda é longo, porém, há luz ao fundo do túnel. E, agora sim, podemos dizer que tudo há de, um dia, ficar bem.