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Vila Verde não se esqueceu de Abril

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  • Por Luís Sousa

No dia 25 de abril de 1974, o restaurante onde trabalhava Celeste Caeiro, na Rua Braamcamp, em Lisboa, celebrava um ano de existência. Naquele dia, o plano dos gerentes do estabelecimento, para evocar a efeméride, era distribuir cravos às senhoras e um vinho do Porto aos senhores, porém, com o golpe de Estado a decorrer, o restaurante acabou por não abrir as portas.

Por isso, os cravos acabaram nas mãos, nas lapelas e nos canos das espingardas dos militares de Abril que, assim, aceitaram a oferta daquela que viria a ficar conhecida como a Celeste dos Cravos. E assim, a poetisa Rosa Guerreiro Dias eternizou esta “Celeste em flor” num poema que lhe dedicou: “Com este gesto, mulher / Trouxeste ao país Glória. / Não és uma mulher qualquer / Nem qualquer uma entra p’rá História / És somente portuguesa / Uma mulher em tantas mil / Mas irás ser, com certeza, / Mulher dos cravos de Abril.” A História também se faz de acasos!

Em Vila Verde sentiu-se bem a marca dos cravos de abril com a iniciativa que espalhou cerca de 1500 cravos vermelhos, produzidos pelos alunos das nossas escolas, pelas ruas da nossa Vila e também na Vila de Prado, numa iniciativa que envolveu os Agrupamentos de Escolas do Concelho, da Escola Secundária de Vila Verde, da EPATV e do Colégio D. João de Aboim. Vila Verde deu às celebrações de abril a importância e o destaque que esta data merece, dinamizando um vasto conjunto de ações que visaram lembrar o momento em que Portugal se libertou do jugo da ditadura do Estado Novo.

Envolver as gerações mais novas nestas iniciativas é sempre de louvar e, por isso, é, também, nas escolas que devemos lembrar abril. Hoje, 55% da população nacional já nasceu em plena democracia e, felizmente, nunca sentiu na pele a dureza do lápis azul da censura, a repressão impiedosa de uma polícia política ou as torturas por que muitos passaram só por discordar. Mais de metade da população já nasceu numa fase de democracia consolidada, aberta ao mundo e à Europa e que nos demarcou da condição “orgulhosamente sós”, que caracterizou a política do velho Estado Novo, e nos elevou a um patamar de pertença à Europa e ao mundo globalizado.

Vila Verde cedo aderiu aos intentos da revolução, sentimento vincado na ata da reunião de Câmara de 2 de maio de 1974, exposta, por estes dias, na Biblioteca Municipal de Vila Verde. Naquela reunião, presidida pelo Professor Fausto Feio Soares Azevedo e que contou com a presença de outros ilustres vereadores, um dos quais meu conterrâneo, natural de Vilarinho, o Professor Ernesto Alves Ferreira, os participantes unanimemente se aliaram numa saudação de apoio às Forças Armadas: “Estão assim lançadas as bases duma nova sociedade em que todos os portugueses, sujeitos aos mesmos direitos e aos mesmos deveres, podem e devem participar para maior grandeza da Pátria”.

O 25 de abril foi o dia mais importante de um processo de democratização do país e que, por isso, merece destaque em relação às demais datas relacionadas com este período revolucionário. Porém, não pode ser desconectado de outros momentos historicamente importantes que lhe antecederam e, também, sucederam.

Do pós-revolução, há que destacar a turbulência que o país viveu nos meses seguintes, com evidente confrontação entre os moderados e as forças de extrema esquerda; a projetada “matança da Páscoa” e o consequente golpe militar falhado de 11 de março de 1975; ou a machadada final neste processo revolucionário que nos conduziu à consolidação da democracia em Portugal com a vitória dos moderados no 25 de novembro de 1975 que alguns querem esquecer mas que, juntamente com muitos outros momentos deste período da nossa História recente, também devem ser lembrados, pois fazem todos parte de um caminho que conduziu o país à democracia que somos hoje. Viva o 25 de abril e um bem-haja a todos os militares que corajosamente arriscaram a sua pele e as suas vidas por amor a este país. Devemos-lhe uma eterna gratidão pela nossa liberdade!

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