Texto: Andreia Leitão, Coordenadora do Núcleo Territorial da Vila Verde da Iniciativa Liberal.
Vossa Excelência desculpe, mas não se importa de me deixar viver como eu bem entender? Como educada que sou, solicito me permitam viver e expressar-me como entender. Sou a informar desta vontade com o facto de não interferir em nada com a vossa vida e só nestes termos sinto validade para o pedir. Porquê?
Vamos por partes: num dia destes com os meus filhos na praia, calhou de levarmos bolas para brincar, registei o momento em fotografias e tive vontade de partilhar essas mesmas nas minhas redes, começo a story com uma dos meninos voltados de costas lá ao fundo a jogar e chegado o momento de elaborar uma descrição, o que me ocorreu escrever foi: “Ser mãe de meninos”, isto porque no meu caso verifico com experiência própria de quem lida com meninas com idades idênticas às deles, que por acaso ou não, têm posturas, brincadeiras e interesses diferentes. Na dúvida, forcei-me a recuar no texto receando ofender alguém que visse o comentário. Porque há meninas que se interessam por bolas, assim como meninos por glitter, tudo certo.
No meu mundo, cada um pode interessar-se e crescer como bem o sentir. O que gostaria de enfocar aqui é a minha falta de liberdade de expressão com receio da recente cultura de cancelamento em que vivemos à custa de temas woke, que tendem a ser banalizados e desaproveitados por esta tendência de extremismo de opinião e postura na vida.
Desde criança que me preocupo com as questões ambientais, cedo escrevia cartas para o presidente da junta a pedir fiscalização de empresa metalúrgica que libertava resíduos através da torre, tendo como consequência o depósito metálico nas árvores. Sempre fui atenta, crescendo e tomando decisões na minha vida, com o mínimo prejuízo possível para o ambiente de forma discreta. Pois bem, porque é que me fazem sentir uma ingrata para com o planeta se não desligar a impressora? É nisso que medimos a preocupação ambiental?
É que muitas das pessoas que desligam a impressora, são as que se intitulam vegan mas se maquilham com batom produzido com base em testes animais, compram roupa como quem compra pães, confecionada por crianças no Bangladesh e usam telemóveis com bateria de lítio para fazer stories sobre os seus ricos estilos de vida. São estes que grafitam mensagens ambientais com tintas de acrílico. São os que estão preocupados com o planeta, mas depois buzinam à mínima querela no trânsito, que não se inibem de viajar para “paraísos” longínquos em aviões comerciais ultra poluentes, sem pejo de deixar os avós nas urgências no Natal. Eu desde cedo me julgo liberal e por mim eles podem fazer o que bem entenderem, só volto a pedir que não me julguem e não puxem para vocês o baluarte da sustentabilidade porque vos falta coerência.
Por trabalhar numa unidade de saúde, lido diariamente com o sofrimento alheio, antes disso, porém, pude mostrar em debates escolares a minha posição pró-aborto e pró-eutanásia. O que significam as minhas posições? Que quando, e se, eu precisar decidir sobre o meu próprio corpo, o possa fazer legalmente. Com isto não significa que tivesse coragem ou cobardia, de abortar ou decidir pelo término da minha vida, denota apenas que gostaria de ter opção de escolha para ara mim e para outros que possam precisar. Por que raios hei-de eu sentir que posso decidir por uma pessoa imobilizada corporalmente em agonia?
Ou por uma jovem grávida sabe-se lá fruto de que circunstância? Com que direito me tentam impor regras sociais exigindo que lhes obedeça? Terei mesmo de aceitar um homem, rapaz na casa de banho, entre um retoque de maquilhagem ou um aperto/desaperto do soutien que me está a incomodar, para ser aceite como Mulher? Porque (o) (a) mesmo (a) naquele momento afirma sentir-se Mulher? Tudo é todos para todos, sem desníveis de inteligibilidade ou falta dela, tudo é comum, vulgar e aceitável, porque… sim?! Não obrigada!
Vamos ajudar e incluir as minorias sem excluir as maiorias?
Coerência, moderação e bom senso, posso pedir?
Agradeço