Um estudo em três áreas protegidas do Norte do país identificou uma tendência de agravamento da ocorrência de incêndios florestais, redução dos recursos hídricos disponíveis e contínuo recuo da linha da costa, com impacto direto e indireto no turismo.
As conclusões constam do relatório final do projeto CLICTOUR, cujos resultados foram apresentados, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em Braga, e cuja análise das tendências de evolução climática permitiu identificar alguns impactos previsíveis nas áreas naturais protegidas do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), Parque Natural do Alvão (PNA) e do Parque Natural do Litoral Norte (PNLN).
“Podemos destacar os relativos ao agravamento da ocorrência de incêndios florestais, decorrente da previsível subida das temperaturas e alargamento do período estival (principalmente no PNPG e no PNA), a redução dos recursos hídricos disponíveis, causada pela redução na precipitação no cenário mais gravoso, e o contínuo recuo da linha de costa (particularmente no PNLN)”, lê-se no documento a que a Lusa teve hoje acesso.
Nas três áreas protegidas foram avaliadas a temperatura (máxima e mínima) e a precipitação, tendo sido observado um aumento do período de seca entre junho e setembro e o aumento da temperatura máxima para além dos meses de verão, com extensão de altas temperaturas para os meses de abril, maio e setembro a novembro, nos cenários RCP (Rota de Concentração Representativa, relativa a concentração de gases de efeito de estufa) 5 (moderado) e 8.5 (extremo).
De acordo com o documento a que a Lusa teve acesso, a temperatura mínima tem maior aumento entre os períodos 2041-2060 a 2061-2080, com +0,78°C, enquanto a temperatura máxima tem aumento médio de 1,25°C no mesmo período, no cenário mais moderado.
No cenário extremo, o maior aumento da temperatura mínima é registado no período 2061‑2080 a 2081-2100 com +1,4 °C, enquanto a temperatura máxima aumenta 1,79 °C no mesmo período.
Perante este cenário, alertam os investigadores, “há tendência de aumento de ondas de calor, nos meses de primavera, verão e outono, um indicador que, em conjunto com a diminuição da humidade do ar, em consequência destas ondas de calor, pode contribuir para o incremento de eventos como incêndios e escassez de água”.
Como impactos principais, os investigadores apontam ainda as alterações dos ecossistemas e redução da biodiversidade, as consequências para a agricultura e o empobrecimento dos solos.
Estes fenómenos produzem ainda impactos diretos e indiretos no setor do turismo, nomeadamente ao nível da segurança na prática de atividades turísticas e riscos para a saúde associados, ou até na redução da qualidade da paisagem.
O estudo aborda ainda o impacto significativo das catástrofes como as do ano de 2017, na economia portuguesa, revelando que são os setores primários, excluindo o das pescas, os que registam maiores quebras de produção.
Os efeitos de arrastamento afetam, contudo, a maioria dos setores económicos, incluindo os ligados ao turismo.
Segundo os investigadores, os resultados sugerem que políticas de reconstrução e adaptação são fundamentais para minimizar os impactos adversos das catástrofes, defendendo a necessidade de melhorar as infraestruturas turísticas existentes e implementar estratégias para tornar o turismo nas zonas florestais mais atrativo.
Debruçando-se sobre a aplicação de taxas turísticas nestas áreas protegidas, o projeto CLICTOUR concluiu também que o turismo não deve ser percecionado como uma fonte de crescimento económico sem custos, defendendo que deve ser considerada a sua introdução destas taxas.
A sua aplicação, revelam, pode dar origem a um aumento da receita total até cerca de 3% nos municípios pertencentes ao PNA, ao PNPG e ao PNLN.
O trabalho de investigação apresenta ainda um roteiro para um turismo sustentável nestas áreas, onde, defendem ser fundamental mecanismos de monitorização da evolução do seu impacto por forma a ajustar as estratégias de acordo com as mudanças climáticas e socioeconómicas.