‘My Stolen Planet’, uma narrativa ao estilo diário da realizadora iraniana Farahnaz Sharifi, arrecadou o Prémio Jean-Loup Passek para Melhor longa-metragem internacional no MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço.
A melhor curta ou média-metragem foi atribuída a ‘Les Chenilles’ da dupla Michelle e Noel Keserwany.
Já o galardão para melhor documentário português acabou nas mãos de Tânia Dinis com ‘Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas’.
A 10.ª edição do MDOC trouxe à vila raiana de Melgaço 22 estreias nacionais e 31 filmes na selecção oficial, com abordagens temáticas tão diversas como actuais que obrigam a reflectir sobre a questão palestiniana, os direitos humanos, as migrações, o colonialismo, o ambiente e as questões de género.
De 29 de Julho a 4 de Agosto, o júri teve a oportunidade de apreciar as 21 longas-metragens e 10 curtas e médias-metragens.
Este domingo, foram finalmente anunciados na Casa da Cultura de Melgaço os vencedores da edição 2024.
O prémio Jean-Loup Passek para Melhor Documentário Internacional foi atribuído a ‘My Stolen Planet’, da realizadora iraniana Farahnaz Sharifi, documentário em que a própria resgata memórias que são parte da sua história pessoal.
Forçada a migrar para o seu planeta privado para conseguir ser livre, Sharifi compra as memórias de outras pessoas em forma de filmes super 8mm, grava e arquiva as suas próprias narrativas, para criar uma história alternativa do Irão e do seu regime opressivo.
Nesta categoria, o documentário filmado na comunidade de Masafer Yatta destruída pela ocupação israelita – ‘No Other Land’, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor – mereceu Menção Especial.
‘Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas’ de Tânia Dinis conquistou o prémio de Melhor documentário português.
O filme combina o tratamento ficcional e documental, parte do arquivo fotográfico e de imagens reais e do testemunho oral de várias mulheres, provenientes das regiões de Trás-os-Montes, Beira, Alto e Baixo Minho que, entre os anos 40 e 70, foram para a cidade do Porto trabalhar como criadas de servir.
“A Savana e a Montanha”, a terceira longa-metragem de Paulo Carneiro, que teve estreia nacional no MDCO, leva a Menção especial.
BOTICAS CONTRA MINA DE LÍTIO
O filme esteve na Quinzena dos Cineastas, mostra paralela do Festival de Cannes 2024 e retrata a luta dos habitantes de Covas de Barroso (concelho de Boticas) contra uma multinacional britânica – Savannah Ressources – que pretende construir a maior mina de lítio a céu aberto.
Já o prémio Jean-Loup Passek para Melhor curta ou média-metragem coube à dupla Michelle e Noel Keserwany que realizaram ‘Les Chenilles’, uma história sobre exploração passada e presente e sobre a solidariedade feminina, a amizade e o consolo entre Asma e Sarah, duas mulheres originárias do Levante, que se descobrem apesar de carregarem o peso da pátria de origem.
Nesta categoria, o filme de animação que retrata o ciclo completo da vida de um molusco especial, ‘Percebes’, de Alexandra Ramires, Laura Gonçalves recebe a Menção especial do MDOC.
O júri oficial desta edição do MDOC — Festival Internacional de Documentário de Melgaço foi composto por Angelos Rallis (Grécia), vencedor do Prémio Jean Loup Passek/ MDOC – Melhor Longa Metragem 2023, com o filme Mighty Afrin: in the time of flood; Irina Trocan (Roménia), Mohammadreza Farzad (Irão), Raquel Schefer (Portugal) e Truls Lie (Noruega).
De referir ainda que o Prémio D. Quixote (da IFFS – Federação Internacional de Cineclubes atribuído em Festivais de Cinema seleccionados) coube este ano a ‘No Other Land’ de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor na seccção de Melhor longa-metragem, sendo que a Melhor curta ou media-metragem foi conquistada por Stefano Obino com o filme ‘A Beautiful Day’.
Durante uma semana intensa, Melgaço voltou a ser o centro do cinema documentário, numa edição que teve um número recorde de realizadores e produtores presentes – 22 – e uma média de afluência de público na ordem dos 3 800 espectadores.