Opinião de Salvador de Sousa.
A Imagem de Fátima prosseguiu a sua peregrinação por aldeias, missões e cidades da antiga Rodésia do Sul, sendo louvada, acarinhada sempre com a mesma alegria e júbilo. São estes fenómenos que nos revelam, de um modo sensorial e bem visível, a realidade da Mensagem da Virgem que se impôs à Igreja e ao mundo.
Pagãos, pessoas de todas as cores e de todas as religiões homenageiam Nossa Senhora de Fátima. «Em Mukaro, um velho régulo pagão recebe oficialmente a Imagem.» Numa zona onde a escassez de Igrejas era notada, as gentes, ávidas da presença da Mãe de Deus, construíam os seus floreados altares, sendo iluminados, durante a noite, com a luz de inúmeras fogueiras que mantinha viva a beleza e o sentido daquela Imagem que eles queriam viva e com o seu olhar venerador. Numa importante cidade, as autoridades quiseram assistir à consagração da Diocese ao Imaculado Coração de Maria, avistando-se uma multidão de variadas crenças, assistindo e louvando a Virgem Maria. Neste mesmo local, uma adolescente, proibida pelos seus pais de receber o Batismo, guiada e afogueada pela luz do seu coração, dirige-se ao Bispo e pede-lhe para ser iluminada pelo Sacramento que a fez filha da luz, tornando-a de Cristo e da Sua Igreja.
Na antiga Rodésia do Norte, todos os caminhos ficaram apinhados de gente, crente e não crente, que se deslocava para as cidades e aldeias, algumas fazendo, a pé, centenas de quilómetros. Em Lusaka, por exemplo, onde não havia igrejas católicas, a Imagem Taumaturga chamou a si multidões que foram sementes que germinaram e fizeram crescer os frutos de uma “futura e próspera cristandade.”
No Quénia, o Governo, apesar de protestante, concedeu feriado oficial em honra da Virgem Peregrina. As Senhoras de Nairobi bordaram a ouro um manto de seda que ofertaram à Senhora de Fátima.
Um jornalista descrente, que presenciou as manifestações de louvor em Mambasa, escreveu, numa das suas crónicas semanais no jornal «The Lunday Post» de Nairobi: «Não sou católico…mas assisti a quase todas as cerimónias que se desenrolaram por ocasião da visita de Nossa Senhora de Fátima e fiquei imensamente impressionado com as enormes multidões que a seguiram… A coisa mais impressionante desta visita da Imagem de Nossa Senhora de Fátima a Mambasa, foi certamente a mistura de raças em todas as cerimónias… E foram até muitos muçulmanos e hindus, como em Nairobi, à Igreja prestar, a seu modo, homenagem a Nossa Senhora de Fátima.»
A Etiópia, um dos primeiros países da zona, com uma devoção a Nossa Senhora bastante considerável, (já no séc. XV, no reinado de Zar’a Yako, muitos etíopes “gravavam a fogo no braço direito”: «Sou escravo de Maria.»), recebeu a Imagem com uma grande receção, mesmo não sendo divulgada a Sua Visita por motivos de belicismos na região, tendo o próprio prelado desaconselhado, por prudência, essa deslocação à sua terra. Apesar de tudo isso, a apoteose foi magnífica com mulheres e homens coptas a curvarem-se com muita entrega e aclamações.
O cortejo seguiu para Adis Abeba e o Primeiro-Ministro, cruzando com o cortejo e informado do que se estava a passar, sai do seu carro e “com uma profunda e protocolar reverência – reservada apenas ao Imperador – curva-se perante a Imagem de Nossa Senhora, ao mesmo tempo que a multidão o aclama e imita. O próprio Imperador quis receber o cortejo no seu palácio, onde se comove com os relatos que ouviu das Aparições de Fátima, sobretudo com a mensagem de paz que desejou para todos os povos e nações e, com o sorriso nos lábios refere: «A Etiópia ama muito a Rainha dos Céus. Agradeço-lhes, reconhecido, terem trazido ao meu país a Senhora de Fátima. Sinto-me feliz ao ser informado que o meu povo A recebeu triunfalmente. A Etiópia precisa mais do que ninguém da verdadeira paz.» Em seguida, ofereceu uma medalha com a sua efígie e com a epígrafe: «DEUS GUARDE A ETIÓPIA.»
O cortejo partiu para Heliópolis, onde dizem que passou Nossa Senhora aquando da fuga para o Egito e onde foi construída uma monumental igreja, comemorativa desta visita, dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Após a passagem pela Líbia, a Imagem Peregrina regressa a Lisboa.
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História…