Sou professor aposentado, mas continuo muito atento a tudo aquilo que acontece nas nossas escolas ao longo do país, pois transtorna-me e fico muito entristecido quando algo de menos correto, na minha opinião, se passa nestes ambientes educativos e que é preciso pôr um ponto final para que não percamos o que de bom ainda existe.
Ao longo da vida, somos aculturados e a nossa integração vai sendo feita de acordo com a nossa carga genética, a nossa família, a escola, os nossos amigos e de todo o meio que nos envolve. Isto, desde o nascer até morrer, somos fruto dessas envolvências e, durante este nosso caminhar, temos fases etárias muito mais influenciáveis por tudo aquilo que nos rodeia e a que Freud chama “o superego.” Cada um de nós, fazendo essa retrospetiva, não precisa de recorrer a qualquer “enciclopédia” para fazer essa dedução. Somos, nesta vertente, fruto da educação e da orientação que tivemos na formação da nossa personalidade.
O que referi, vai servir de preâmbulo para o assunto que vou desenvolver e que me preocupa sobremaneira! Escolhi uma profissão que, continuamente, abracei com muito empenho e muito carinho e que, tenho a certeza, a grande maioria dos meus colegas, assim como todo os outros agentes educativos, também sente isso, pretendendo dar o seu melhor pelos seus educandos como de filhos se tratassem. É isso que sempre aconteceu e acontece, trabalha-se em função dos alunos e nada acontece na escola contra os alunos. Pode haver uma ou outra exceção, mas testemunho que é muito difícil isso acontecer. O que não pode haver é, por vezes, interpretações erradas de certas atuações que são necessárias para se cumprirem as regras estabelecidas para bem de toda a comunidade educativa.
Fui, durante muitos anos letivos diretor de turma e, alguns, coordenador dos diretores de turma e sempre admirei a ligação entre a casa e a escola, o empenho, a presença assídua dos encarregados de educação, sinal de envolvimento e no grande auxílio que prestavam e, felizmente, muitos ainda prestam às escolas e a si próprios, porque estão a “cultivar” o seu futuro, preocupados com o amadurecimento do seu fruto. Sabiam, no geral, distinguir as competências de cada agente educativo, respeitavam as regras estabelecidas pelos órgãos de cada estabelecimento escolar, sequenciavam, aprovavam e motivavam os seus educandos no processo de ensino/aprendizagem. Reconheciam as competências dos professores e aceitavam as suas orientações científico-pedagógicas, incentivavam os seus educandos a acatar o cumprimento de regras por qualquer educador dentro do espaço escolar.
Hoje, nota-se uma grande decadência, felizmente, longe de ser geral, mas já é caso para perguntar: Para onde caminhamos com tanta indisciplina? Para onde caminhamos com certos encarregados de educação a pôr em causa os ensinamentos e as diretrizes dos professores, dos auxiliares de ação educativa e da própria direção das escolas? Para onde caminhamos com alguns pais com a autoestima exagerada querendo ensinar aquilo que não sabem, pondo em questão ensinamentos dos docentes? Para onde caminhamos se não confiamos nos nossos agentes educativos que continuam, tal como no passado, a quererem o melhor para os seus alunos? Para onde caminhamos com alguns pais a impedirem que os seus filhos, com dificuldades de aprendizagem, assistam às aulas de apoio? Para onde caminhamos com tanta falta de educação, mesmo no interior dos recintos escolares, maltratando colegas/alunos, auxiliares da educação e, mesmo professores, proferindo palavrões nos recreios e cenas pouco recomendáveis num espaço de formação educativa?
É tempo de não deixar avançar essa virose que está a contaminar e a destruir tantos valores. Já há casos de alunos que sofrem de bullying por quererem aproveitar o seu tempo, respeitando as regras. É preciso que os pais continuem a ser os primeiros grandes educadores dos seus filhos, educando-os para além do aconchego familiar, sabendo orientá-los, de uma forma sequencial, acatando as regras dos estabelecimentos escolares. Se esse fio condutor, entre a escola e a família, for quebrado assiste-se a uma falta de equilíbrio que afeta o sucesso do educando, a sua motivação, destruindo o bom ambiente das escolas, multiplicando a desordem e contagiando outros alunos.