No dia 13 de agosto os pastorinhos não puderam marcar presença na Cova da Iria, devido à sua prisão, passando três dias em Vila Nova de Ourém sujeitos a ameaças, chorando com saudades da família e por não poderem estar no local das Aparições. Poderemos classificar isto como meramente humano, como intrujice ou ilusão? Estes acontecimentos revelam, por si, a intervenção do divino. O próprio povo ficou indignado com o administrador por ter escolhido aquele dia para prender os videntes e muitos estavam revoltados mesmo com o Prior, chegando este a recear pela sua integridade física.
No dia13 de setembro de 1917, refere a Lúcia que não foi fácil chegar ao local das aparições. Uma multidão imensa, durante o percurso, queria tocar, falar, pedir a intercessão dos pastorinhos, irrompendo por entre a multidão, prostrando-se de joelhos diante daquelas três crianças, como nos conta a própria Lúcia: «Pelo amor de Deus, peçam a Nossa Senhora que cure o meu filho que é aleijadinho; outro, que cure o meu que é cego; outro, o meu que é surdo; que me traga o meu filho, meu marido que andam na guerra… Ali apareciam todas as misérias da pobre humanidade e alguns gritavam até do cimo das árvores e paredes para onde subiam para nos ver passar…»
Lá chegaram com muito custo à Cova da Iria, junto da carrasqueira (azinheira), começando a rezar o terço com o povo, aparecendo, a seguir, Nossa Senhora proclamando a Sua mensagem, prometendo aos pastorinhos o milagre de 13 de Outubro, a cura de alguns doentes.
No dia 13 de Outubro, no meio de tantas dificuldades de acesso, de transportes, uma multidão vinda, também, de localidades distantes quis estar presente no local, um número aproximado de 70.000 pessoas. Por todos os cantos do país não se falava de outra coisa. O medo das represálias e perseguições, pois a Maçonaria e seus derivados, a imprensa mais jacobina, as autoridades que pressionavam para que diminuísse, ao máximo, o número de fiéis nesta aparição, situação agravada com o silêncio dos homens da Igreja, alheamento do clero e todo aquele descampado ermo e inculto, mas, mesmo assim, não fizeram arrefecer os ânimos dessa gente numerosa que quis estar presente, apesar de haver alguns que não esperariam todo aquele fenómeno do Sol e de outras forças da natureza, estando preparados para o “massacre”, caso não acontecesse o milagre. Quero destacar, nesta e na próxima crónica, os relatos sentidos de três testemunhas presentes no local destes prodigiosos acontecimentos: um sacerdote, o Cónego Manuel Nunes Formigão Júnior, professor do Seminário de Santarém; o Doutor José Maria de Proença de Almeida Garrett, lente jubilado da Universidade de Coimbra e o sr. Avelino de Almeida, diretor de “A Lanterna” e redator de “O Século” que não era católico ao contrário dos dois primeiros.
Finalizo esta crónica com uma síntese do depoimento do Cónego Dr. Manuel Nunes Formigão:«No dia 13 de Outubro, estando presentes cerca de setenta mil pessoas de todas as classes e condições sociais e de todos os pontos do país, terminando o diálogo entre Lúcia e a Aparição, que lhe declarou ser Ela, a Rainha do Rosário, a vidente recomendou aos circunstantes que olhassem para o Sol. O firmamento estava completamente nublado. Chovia torrencialmente.
Como que por encanto, rasgaram-se de repente as nuvens, e o Sol… apareceu com todo o seu esplendor e girou vertiginosamente sobre si mesmo como a mais bela roda de fogo de artifício… projetando feixes de luz de um efeito surpreendente… que se repetiu por três vezes distintas, durando cerca de dez minutos. A multidão imensa, rendida perante a evidência de tamanho prodígio, prostrou-se de joelhos. O Credo, a Ave-Maria e o Ato de Contrição irromperam de todas as bocas e as lágrimas, lágrimas de alegria, de gratidão ou de arrependimento marejaram todos os olhos. A imprensa relatou, em termos respeitosos, os assombrosos acontecimentos em Fátima.»