Até à hora que escrevo esta crónica, o momento mais alto dos debates para as presidenciais foi protagonizado por Vitorino Silva, conhecido carinhosamente por todos como Tino de Rans. Assim o tratarei nesta crónica.
Aconteceu logo no início do debate com André Ventura, quando Tino de Rans colocou em cima da mesa quatro pedras de cores diferente, recolhidas em Peniche junto ao mar.
Viu-se que o seu adversário sentiu o toque e que ficou desarmado para o resto do debate.
O local de recolha das pedras e a cor de cada uma delas não foram um mero acaso.
Foram recolhidas junto ao mar: uma era laranja, outra rosa, outra preta e outra branca.
Duas delas simbolizavam as diferenças políticas: a cor-de-rosa e a laranja, as quais creio que não podem ser lidas como sinónimo literal do PS e do PSD, mas antes como sendo representantes de todo o espetro político e partidário, que vai da esquerda à direita.
As outras duas, uma branca e outra preta, traduziam a multiculturalidade do povo português, todos diferentes mas todos iguais.
Quanto ao local onde foram recolhidas as pedras, junto ao mar, ele transporta-nos quer para o imaginário da história de uma nação que partiu à procura de novos rumos, quer para a ideia de uma porta aberta de entrada de novos mundos: é do encontro de Povos de que estamos a falar.
Toda a intencionalidade estava lá. Carregadas de uma forte simbologia, Tino de Rans disse que “O mar traz pessoas de todas as cores…”
Com toda uma linguagem metafórica, colocou no centro do debate a multiculturalidade e a migração. Só faltou o moderador saber aproveitar a deixa para aprofundar o tema.
Com a sabedoria de quem se fez pela força da vida, longe dos bancos da academia, Tino de Rans, de forma muito simples, deu uma grande lição pública de humanismo, de sensatez e de humildade.
Reconheçamos a força da imagem trazida ao debate pelo candidato, independentemente de quem estejamos a pensar em votar. Aliás, por uma questão de transparência da crónica e porque aqui o elogio, eu assumo que não sou eleitor de Tino de Rans.
Todavia, por uma questão de honestidade intelectual, reconheço que ao longo destes últimos largos tempos em que se vê tanta gritaria, contra o CHEGA e contra André Ventura, Tino de Rans foi mais eficaz do qualquer outro político ou partido no país.
Bastaram quatro singelas pedras quietinhas, serenamente colocadas em cima da mesa do debate político!
André Ventura foi parado com eficácia pelo mais improvável dos seus adversários.
Esperemos que todos os políticos tenham aprendido alguma coisa com este debate, para esta e para outras eleições. Em vez de atirarem sistematicamente pedras de forma agressiva usem-nas com sabedoria.