Como era expectável, o número de casos positivos de COVID 19 tem aumentado.
A mobilidade ligada ao período de férias, o regresso às aulas e algum cansaço de todos nós, com o consequente relaxamento das regras, proporcionaram este inevitável quadro.
Perante este cenário, hoje quero partilhar convosco uma grande preocupação que que me vai assolando o espírito, a qual resumiria na seguinte questão:
Qual será o estado da nossa saúde mental, sobretudo no rescaldo da pandemia?
As primeiras preocupações dos responsáveis foram 1) evitar que o vírus se propagasse de forma totalmente incontrolada e 2) evitar que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) entrasse em colapso.
Estas preocupações são as mais fáceis de passar para os cidadãos, uma vez que elas são palpáveis. As pessoas ficam doentes, vão para o hospital, ficam confinadas e outras, infelizmente, acabam por falecer.
De seguida, chegou a preocupação com a evolução da economia: empresas em dificuldade, paragem de actividade económica, desemprego, diminuição de rendimentos. Tudo aspectos fáceis de sensibilizar a sociedade.
Estas duas questões, a “saúde física” e “a saúde económica” são perceptíveis por todos por serem demasiado evidentes.
Mas a “saúde mental” é algo que passa ao lado da maioria de nós. Mesmo antes da pandemia, o problema ttinha uma dimensão bem maior do que é visível. Ele esgueira-se dos olhos comuns e, na maioria dos casos, nem os próprios se apercebem que precisam de cuidados de saúde.
Este é o resultado da sociedade que temos vindo a construir, onde impera a competição entre indivíduos, privilegiando-se o ter face ao ser, relegando para segundo plano o colectivo, a insegurança no emprego, a dificuldade em programar o futuro…
Se assim era até aqui, o problema foi exponenciado por um factor: o aumento da solidão e do medo!
Solidão por ficarmos sozinhos em casa, por não nos encontrarmos, por não nos tocarmos, por distanciamento dos nossos entes queridos e dos nossos amigos… solidão até na hora da última despedida!
Medo, de perdermos quem gostamos, de ficar doentes, de nos encontrarmos, de ficar sem empregos… e até se sente marginalização social por se ter testado positivo, mesmo depois de curados!
E tudo isto arrasta-nos, colectivamente, de forma silenciosa, para um beco de difícil saída.
É, pois, urgente colocar na agenda política a “saúde mental” do país.
O SNS tem de ser reforçado com profissionais da área e tem de ser desenvolvido, com brevidade, um programa sólido, com dimensão capaz de responder ao problema.
Por fim, mais do que nunca, cada um de nós deve estar vigilante aos sinais do familiar, do amigo, do colega de trabalho, para que, a par dos cuidados de profissionais da área, tenham um ombro amigo.