Nas sociedades ocidentais, assistimos ao acelerar do envelhecimento da população. As causas vão desde a falta de condições objectivas para os jovens estabilizarem cedo a sua vida e assim poderem ter mais filhos, passando pelo crescente individualismo até ao aumento significativo da esperança de vida.
Esta evidência convoca-nos, a todos, para a reflexão de como nos devemos organizar, enquanto comunidade, para lidar com o fenómeno.
Creio que a angústia percorre as diversas gerações.
Os mais idosos vivem angustiados, diria mesmo receosos, sem saber como serão acompanhados. A falta de recursos para viverem condignamente e a solidão serão os seus maiores pesadelos.
A geração intermédia sente-se impotente para resolver, cada um por si, as situações dos seus familiares. As profissões são exigentes, roubam-lhes o tempo e, muitas vezes, são obrigados a sair das suas terras em busca de emprego.
A geração mais nova angustia-se numa selva em que o paradigma do emprego certo para a vida toda deu lugar à instabilidade profissional. Hoje, os jovens, têm muita dificuldade (talvez até não consigam) em planear a sua vida a médio prazo.
É com este cenário que tenho lido ultimamente na imprensa que a lei obriga os mais novos a cuidar dos seus idosos.
Cuidar dos nossos idosos, não devia ser um imperativo legal. Tem de ser, isso sim, um imperativo moral e ético.
Para a maioria das pessoas, hoje, dificilmente é possível ter os seus familiares em casa até ao fim das suas vidas. Nem tenho a certeza que em muitos casos tal fosse mesmo desejável.
A solução tem passado pela existência de lares, residência séniores e similares: nuns caos com bons serviços, mas noutros nem por isso.
Esta é uma tendência que tenderá a acentuar-se e devemos olhar atenta e zelosamente para que esta solução – tendencialmente inevitável – seja construída com critérios de qualidade. Mas, acima de tudo, por forma a garantir a dignidade dos seus utentes. Esta questão da dignidade humana de cada utente destes estabelecimentos é inegociável e tem de prevalecer sobre tudo o resto.
Este é o cerne da questão.
Para que o respeito pela dignidade humana seja o primeiro e o grande referencial, temos de determinar e impor que os mais frágeis e os mais desfavorecidos estejam sempre na primeira linha das decisões políticas coletivas e individuais.