Fátima, sempre foi, já é e será sempre mais (18) Nossa Senhora no coração dos literatos

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Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622), chamado “Cantor do Lis”, autor regionalista, considerado o iniciador do Barroco na Literatura Portuguesa, nascido em Leiria, onde a poucos quilómetros, em Fátima, uns séculos mais tarde, apareceu Nossa Senhora aos três Pastorinhos repleta de luz, revelou, em alguns dos seus textos, a sua devoção à Virgem Maria…

Vou, apenas, transcrever algumas passagens dos seus escritos:

«Mil anos há que busco a minha estrela/E os Fados dizem que ma têm guardada;/Levantei-me de noite e madrugada,/Por mais que madruguei, não pude vê-la… »

«Oh Vós (Virgem mais pura que as estrelas/Que pisando-as estais no claro assento./ E vestida de Sol, que é senhor delas/Dais honra, glória, e luz ao firmamento) … //Fazei que minha pena o Céu coroe,/ e como de tal ave, escreva e voe!»

A poesia monástica de Frei Agostinho veio como que introduzir a tradição conventual que cresceu, afirmando-se, sobretudo nos finais do século XVII, nos claustros, nas celas e em tantos outros lugares conventuais em que das mãos das monjas eram executados autênticos louvores à Virgem, ao Menino Jesus… estruturados em belíssimas coletâneas. Temos, por exemplo, Soror Maria do Céu, das poucas mulheres da época que tinham acesso a um forte conhecimento, escrevendo desde muito nova vários poemas, mas a sua veia poética destacou-se mais no convento, sendo considerada uma das melhores poetisas da época com uma escrita repleta de imagens, musicalidade e de cariz teatral, trocadilho de palavras, ritmos pastoris, tomando a Virgem Maria a figura de pastora, a mais bela por quem tudo troca, a divina Clemência: «… Quem tem amores não dorme:/Eu já não vou à cabana…/Por Clemência soberana/Gado e cabana deixou-se…»; D. Madalena da Glória que, no silêncio do convento, estudou a História Sagrada e do seu pequeno mundo claustral a sua alma se alegrava com as visões imaginárias do “Orbe Celeste”, escrevendo um livro do qual transcrevo uma sua visão do aparecimento da Virgem a S. João: «Em tão altivo sólio sublimado/ A uma Mulher vê, cujo vestido/ Era o Sol, o esplendor luzido,/ E o cândido da lua o seu calçado. //De estrelas a cabeça coroada./Tão luzida, tão pura e refulgente/Que nela o mesmo Deus se retratava…»

No período da Restauração, o próprio Rei D. João IV, além do que já referi sobre o seu reinado, em crónicas anteriores, é considerado “um grande artista e um dos maiores musicólogos do seu tempo”, podendo realçar-se o incentivo e o desenvolvimento das Escolas de Polifonia de Évora e de Vila Viçosa, atribuindo-se a ele a autoria de um Magnificat em louvor da Virgem Santíssima e, ainda, um trabalho sobre o canto gregoriano “Ave Maria Stella”.

Para redigir a inscrição latina para as lápides que D. João IV mandou colocar em todas as cidades e vilas do reino para vincar a decisão das Cortes que elegeram Nossa Senhora da Conceição como Defensora e Protetora do Reino, proclamando a Virgem concebida sem pecado original, foi escolhido António Sousa de Macedo, sendo este um célebre diplomata e polígrafo, dedicando à Virgem Maria uma grande obra denominada “Eva e Ave”, falando da primeira como a causadora da perda do Paraíso (primeira mulher do Antigo Testamento) e da AVE (lido ao contrário) como a Mulher Salvadora do mundo (primeira do Novo Testamento).

Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História… Editora, Porto, em 1953.

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