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Fátima, sempre foi, já é e será sempre mais (20) – Nossa Senhora no coração dos literatos

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As correntes do racionalismo e do iluminismo foram bastante demolidoras para a doutrina da Igreja, embora a maioria dos pensadores manteve-se fiel a Deus e a Santa Maria de Portugal e nem a doutrina das invasões francesas conseguiu apagar o seu nome.

Descartes (1596-1650), por exemplo, um dos primeiros racionalistas famosos da Idade Moderna, com formação jesuítica, soube, com os seus quatro pensamentos fulcrais (duvido; penso, logo existo; Deus existe; o mundo existe) provar a existência de Deus com a sua própria razão. A sua dúvida era o caminho para a verdade e dizia que só um ser perfeito podia garantir toda a verdade e, afirmava: eu que existo, pensando no perfeito e na sua essência, chego à existência de Deus que existe como princípio e garante de toda a verdade: «a causa que não pode ser causada só pode ser Deus… Conclui Deus a partir de Deus», mas estas suas ideias foram viciadas por outros, sobretudo em França, transformando «a filosofia da dúvida metódica numa metódica de antirreligiosidade», influenciando muitos crentes para o caminho do ceticismo, inclusivamente a nobreza, dando origem à revolução.

Para combater essas ideias, funda-se, em 1756, a Arcádia Lusitana, zelando pela pureza da nossa língua, combatendo os estrangeirismos e tantos barbarismos presunçosos e, no meio destas correntes de irreligiosidade que brotavam de todos os lados, os seus fundadores proclamaram Nossa Senhora como sua guia, adotando, como emblema, o Lírio, símbolo da Conceição Virginal de Maria. Eis alguns dos seus nomes: António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799) recitou, numa conferência pública, uma ode, louvando a Senhora da Conceição «…Oh Céus! Oh nunca vista maravilha!/Uma pura mulher toda vestida/Do Sol brilhante/ …»; Correia Garção, na comemoração do segundo ano da fundação da Arcádia Lusitana, dizia no seu discurso: «Quem será tão bárbaro que, olhando para os progressos da Arcádia, não reconheça que só a força de tão alta proteção podia adiantá-los, ou para melhor dizer, coroá-los com tanta honra e glória?».

Em 1790, é fundada a Nova Arcádia, numa altura em que as doutrinas divulgadas pela “Enciclopédia” (obra criada para a divulgação da ideias do movimento iluminista da segunda metade do século XVIII) e os ideais da revolução francesa eram praticamente conhecidos pelos literatos o que veio transtornar os ideais anteriormente traçados, marcando, bastante, o declínio da Igreja e o crescimento do secularismo.

Muitos dos seus seguidores, apesar dos desvios à doutrina tradicional, conservaram a devoção a Nossa Senhora, dando como exemplo os seguintes: Maximino Torres imbuído pelas novas ideias revolucionárias, propagandeou-as, acabando por ser acusado de jacobino (jacobinismo – associação fundada em Paris, em 1789, sendo um dos seus objetivos lutar contra a realeza e contra a Igreja), terminando a sua vida na prisão, mas, mesmo assim, Maximino Torres compunha uma “Cantata Pastoril”, um diálogo entre pastoras e o coro, para ser apresentada numa das sessões da Nova Arcádia, no dia dedicado à Imaculada Conceição: «Dulce – Vês que imenso clarão sobe às estrelas, afogueando os ares! (…) Coro – Pastoras do Tejo, louvai à porfia a Virgem Maria! (…)»

Bocage (1765-1805) nasceu em Setúbal, com uma vida boémia e desregrada, tornou-se um grande poeta do século XVIII. A sua poesia, individualista e pessoal, seria como que uma introdução à poesia romântica do século XIX. Foi acusado de satirizar o clero e a nobreza, sendo preso pela inquisição, mas, apesar de tudo isso, conserva e divulga, através da sua escrita, uma devoção grande à Virgem Imaculada. A cada momento da sua poesia implora a proteção de Nossa Senhora, como que arrependido pela sua vida pecaminosa: «Ah, dos teus olhos um volver piedoso/ desarme, ó Virgem bela, o justiçoso…// Apaga o raio que na mão divina/ A prumo sobre a fronte chameja:/ – A quem Te invoca, Teu favor proteja.»

Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra… editada pela Ocidental Editora, Porto, em 1953.

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