OPINIÃO

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Fátima, sempre foi, já é e será sempre mais (60). Fátima impôs-se e resistiu a todas as perturbações

Por Salvador Sousa

No dia 13 de outubro de 1921 é celebrada sob o alpendre da Capela, mandada construir com os donativos dos fiéis no local das Aparições, altura em que igreja ainda não considerava oficialmente credíveis os acontecimentos da Cova da Iria, a primeira missa para os peregrinos.

Logo no ano seguinte, durante a noite do dia 6 de fevereiro, foram colocadas várias bombas que destruíram, quase por completo, a ermida que o povo católico tanto lutou para que ela existisse. É de realçar que a bomba colocada para destruir as raízes da azinheira onde apareceu Nossa Senhora e que era tão acarinhada pelos peregrinos, não rebentou. O povo, com a sua fé, não esteve à espera, nem atendeu sequer à prudência da Igreja, mas sempre se manifestou, acreditando na mensagem dos pastorinhos.

O período entre 1920 e 1924 foi de muita perseguição por parte do próprio governo, proibindo as peregrinações ao local, mobilizando, inclusivamente, soldados da Guarda Nacional Republicana para o efeito. O coração dos fiéis, impregnado de uma força extraordinária, dava o alento para que, mesmo contra essas ordens de origem anticlericais, debaixo dos perigos e dos grandes sacrifícios, o povo de Deus afluísse ao local às dezenas de milhar, mesmo contra essas ordens do poder político.

Os jornais católicos foram obrigados a aconselhar a desobediência civil, como, por exemplo, “O Dia” que chegou a escrever: «vamos lutar contra o governo… Não vamos lutar contra o regime, mas contra a legislação…» Foi esta força sobrenatural do povo que impôs Fátima e que levou o Cardeal Cerejeira a afirmar: «Não foi a Igreja que impôs Fátima, foi Fátima que se impôs à Igreja.» Houve um jornal que nos inícios dos anos 20 escreveu: «Fátima é o altar erguido no coração das multidões.»

Os peregrinos, nos meses posteriores ao atentado da Capela das Aparições, chegavam à Cova da Iria aos milhares. No dia 13 de Maio seguinte estiveram em Fátima à volta de 60.000 peregrinos de todas as partes do país, rezando e cantando louvores à Virgem Santíssima.

No dia 10 de maio, o Governo Civil de Santarém proíbe a peregrinação de 13 de Maio de 1923, mas os devotos não faltaram, assim como muitos doentes que, em junho, receberam, particularmente, a primeira bênção. No ano seguinte, 13 de Maio de 1924, o número de romeiros foi calculado em 80.000, destacando-se muitos oficiais aviadores, realçando-se Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

A peregrinação do dia 13 de Outubro de 1924 foi proibida pelo governo, ameaçando quem perturbasse a ordem pública, mas concentraram-se em Fátima cerca de 100.000 pessoas que, mesmo com 30 soldados da GNR comandados por um tenente, nada as fez demover a não ser o cumprimento da ordem pública.

A fé dos peregrinos e, mais tarde, a oficialização pela Igreja dos acontecimentos de Fátima, tudo contribuiu para realizações cada vez mais marcantes no local. De realçar, a cerimónia da bênção e lançamento da primeira pedra do Santuário, no dia 13 de Maio de 1928, pelas 10h, presidindo à cerimónia o Bispo de Évora, D. Manuel Mendes da Conceição Santos que na sua alocução disse: «Sobre a pedra hoje lançada neste recinto de maravilha, não será só um templo que se erguerá à Virgem, mas um grandioso monumento em que o mundo há de um dia ler todas as estrofes mais belas da história dos portugueses.»

Este facto de grande relevância foi acompanhado por um número muito elevado de peregrinos (500.000) entre os quais estavam presentes 286 doentes inscritos no posto médico. A noite do dia 12 foi de oração com a procissão de velas que durou 2 horas, seguindo a adoração noturna ao Santíssimo Sacramento adornado com flores e velas na Capela das Missas, a recitação do Terço do Rosário alternado com cânticos eucarísticos e a meditação dos mistérios gloriosos pelo Bispo de Leiria. Para terminar, e já no segundo turno da adoração, foi orador o Cónego Campos Neves, professor do Seminário de Coimbra, sendo, mais tarde, Bispo Auxiliar do Patriarcado e Bispo de Lamego.

O Pastorinho, Francisco Marto, que gostava muito de fazer construções de pedra nos seus entretenimentos, enquanto o rebanho ia pastando, um dia “foi visto a construir uma pequena casa com pedras soltas da charneca,” longe de saber que ali existiria, mais tarde, um Santuário onde afluiriam e “ajoelhariam povos de todas as raças e de todos os continentes.”

Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra…

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