Por Salvador de Sousa
A fé leva-nos a crer em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e vai revelando. Nós, livremente, aceitamos o que a Igreja nos ensina e nos leva a acreditar. Guia-nos para o caminho do Divino para, sem vermos, crermos numa infinidade de mistérios.
Em Fátima, Deus quis revelar-se movendo a humanidade a descobrir o mistério através de sinais que se foram evidenciando, resistindo a todas as afrontas em que o exército popular, sem armas e sem confrontos, foi combatendo, aparecendo no local, diluindo o inimigo e dando a luz dissuasora à dúvida da própria Igreja que se foi amadurecendo com tantas manifestações divinais na Serra D’Aire.
O próprio jacobinismo sarcástico, arrogante, revolucionário, com ataques sistemáticos a tudo o que ia decorrendo na Cova da Iria, através do seu poder político adverso, atentados, ameaças, querendo impor o medo, não conseguiu demover a fé, pois Fátima impôs-se com o número de crentes cada vez mais crescente e com prodígios cada vez mais significativos não conseguindo, essas forças adversas, levar por diante os seus intentos. Apesar disso, havia outros que conservaram, durante bastante tempo, a serenidade intelectual como foi o caso da Igreja que necessitou de 13 anos para o Bispo de Leiria oficializar as Aparições de Fátima.
Podemos considerar também vários literatos que foram, pelos acontecimentos e pelos milagres que iam acontecendo, autênticos testemunhos para se caminhar no sentido da evidência da mensagem de Fátima. Podemos citar algumas palavras, por exemplo, do poeta António Sardinha, mesmo antes do reconhecimento oficial da Igreja:
«O sentimento de presença é um sinal poderoso de afirmação divina. Experimentaram-no, numa uniformidade admirável, quantos viram o Sol a empalidecer diante de Aquela que vinha qual Aurora nascente, mais formidável do que um exército bem ordenado. Não estive em Fátima, mas de longe eu creio na assistência da Virgem à pobre terra de Portugal. …»
António Sardinha respeitava as diretrizes da Igreja, colocando o problema com cautela, pois não queria ultrapassar a autoridade eclesiástica nesta matéria, mas alimentava, na sua consciência, que não era mentira Nossa Senhora aparecer aos pastorinhos e que poderia ser considerado um milagre todas essas manifestações testemunhadas por tantos milhares de pessoas de todas as classes sociais.
Afonso Lopes Vieira, saudoso lírico da Senhora do Mar ou das Ondas quis logo fazer-se romeiro, no meio de tantos outros, subindo, a montanha em direção à Cova da Iria. Escreveu várias letras sobre Fátima, sendo «As primeiras trovas cantadas ao jeito e ritmo do Ave de Lourdes, se as fez um homem do campo, Afonso Lopes Vieira as retificou, afeiçoou e desenvolveu. Do hino simples de louvor passaria, mais tarde, para nobreza solene de uma oratória que se executou, com música de Rui Coelho, no Teatro Nacional de S. Carlos.» Trabalhou, muitas vezes, como servita no Hospital e no recinto do Santuário.
Foram estes e tantos outros homens que ajudaram a dar voz a inúmeras manifestações divinas. A própria Igreja foi-se apercebendo da grandeza de Fátima através de testemunhos fidedignos que presenciaram tantas revelações celestiais. O Cardeal Patriarca de Lisboa é claro na mensagem transmitida pela Emissora Nacional, no dia 30 de outubro de 1942, referindo que «não foi a Igreja que impôs Fátima; foi Fátima que se impôs à Igreja». Neste caso, «a Igreja impôs-se a si própria à espera da escrupulosa análise dos factos» e só a 13 de outubro de 1930, como já referi numa das crónicas anteriores, é que o Bispo de Leiria publica a carta “A Divina Providência”, declarando dignas de crédito as manifestações e todas as revelações de Nossa Senhora aos pastorinhos, oficializando o culto de Nossa Senhora de Fátima.
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História…