No dia 7 de abril de 1942, em pleno conflito mundial, saiu a primeira imagem da Cova da Iria em direção a Lisboa, levada numa camioneta-andor toda enfeitada com ramos de azinheira, de alecrim e de ricas flores vindas da cidade do Porto. Até essa data, a Imagem de Nossa Senhora nunca tinha saído, a não ser para a casa da Senhora Maria Carreira, na Moita Redonda, um lugar da freguesia de Fátima, onde ficava guardada, durante a noite.
Foi a Juventude Católica Feminina que pediu, insistentemente, para que a imagem da Virgem presidisse ao seu congresso em Lisboa, jovens «desejosas de se dar a Cristo e de levar Cristo às almas, modelando as suas vidas e o seu apostolado no exemplo de Nossa Senhora,» querendo, com certeza, agradecer à Virgem de Fátima tantas graças recebidas por Sua intercessão, inclusivamente, estar Portugal livre da guerra. Não foi fácil esta decisão por parte das autoridades da igreja, devido ao risco que se poderia correr, pois, em tempos de um terrível conflito mundial, nunca se adivinha o que poderá acontecer. Sua Eminência o Senhor Cardeal Cerejeira colocou o assunto, telefonicamente, a Dom José Alves Correia da Silva, Bispo de Leiria, ambos concordaram no risco que se corria na realização de tal evento, mas, posteriormente, algo de extraordinário aconteceu que aceitaram a realização da peregrinação.
O Cardeal Cerejeira referindo-se à imagem disse: «A Imagem de Nossa Senhora de Fátima representa a Virgem Santíssima aparecida na Cova da Iria. É o símbolo daquela linda Senhora que os ditosos pastorinhos contemplaram extasiados e lhes disse, sorrindo…que era a Mãe do Céu. A eles confiou a sua mensagem de oração e penitência para todo o mundo. E a esta Imagem anda associada toda a prestigiosa auréola do que chamarei: o milagre de Fátima (…) A Imagem da Cova da Iria benzeu-a (deixe-me falar assim num sentido nada canónico) a devoção do país inteiro. Todo o país católico ajoelhou, junto dela, a orar, a chorar e a cantar… Se as outras imagens significam a mesma Senhora, não dizem a mesma coisa ao coração. Esta tem um valor sentimental único (…) Vem do lugar santo da Cova da Iria, onde a Senhora apareceu.» O Cónego Carlos de Azevedo que escreve o capítulo “ Nossa Senhora de Fátima Peregrina do Mundo” disse que ainda se recordava de toda aquela emoção sentida em 13 de outubro de 1924, após o atentado sacrílego da dinamitação da pequena capela, em março 1922, quando acompanhava o cortejo repleto de luz da capela das Aparições para a casa da Sra Maria Carreira que guardava a Imagem da Senhora de Fátima, sendo ela que a salvou do atentado, ganhando o epíteto de Maria da capelinha ou a tesoureira de Nossa Senhora de Fátima. Faleceu em 1949. Assistiu, logo, à Aparição de 13 de junho de 1917, levando consigo o seu filho João, com uma pequena deficiência motora, começando, voluntariamente e de imediato, a recolher todos os donativos que as pessoas iam deixando em cima de uma mesa por ela lá colocada. Por iniciativa dela, limpou todo o mato e arbustos à volta da Azinheira. Das suas mãos e da família, sobretudo o seu filho João, primeiro sacristão, lê-se, que foram dados os primeiros passos, inclusivamente, a construção da primeira ermida. Já era conhecida pelos peregrinos pelo zelo que tinha do local que procurava tê-lo sempre asseado. Foi ter com o Prior para lhe entregar os donativos recolhidos, mas este não aceitou. Queria a todo o custo que alguém se responsabilizasse por eles, mas não era fácil. A quem ela queria entregar negavam, os que queriam aceitar ela não confiava. No final, a Diocese começou a guardar esses donativos que foram, mais tarde, aplicados na ajuda da construção do Santuário.
No momento da partida da primeira imagem de Nossa Senhora de Fátima encomendada à Casa Fânzeres, em Braga, e esculpida pelo exímio artista José Ferreira Thedim, benzida pelo pároco de Fátima em 13 de maio de 1920 e colocada na Capela no dia 13 de junho do mesmo ano, uma grande multidão das vizinhanças acorreu ao local. Após a recitação do terço e a bênção do Santíssimo Sacramento, as pessoas presentes acompanharam o cortejo até à saída da povoação.
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra…