A Imagem de Nossa Senhora de Fátima, após ter dado a volta ao Terreiro do Paço aos ombro dos Oficiais da Marinha de Guerra, da Brigada Naval e da Legião foi entregue, no Cais das Colunas, aos pescadores açorianos para embarcar e ser levada para a outra banda do Tejo.
Foi um momento vibrante que estremeceu os corações dos presentes com as embarcações a iluminarem-se de imediato, todas embandeiradas e floridas. A Fragata Diamantino ajardinada com toda a espécie de verdura e de pétalas, encimada com uma Cruz luminosa, aguardava a todo o momento a tão desejada Imagem para iniciar o seu trajeto que foi assinalado com um estrondoso morteiro, com os sons estridentes dos alarmes das sirenes, com os foguetes e com os sinos que repicavam.
A embarcação Diamantino era ladeada de duas lanchas denominadas “Lúcia e Bernardete”. Acompanhavam-na, também, outras embarcações com os Bispos de Leiria e o auxiliar de Lisboa (1941-1955), D. Manuel Trindade Salgueiro, e com tantas outras autoridades civis e militares. Enquanto isso acontecia, a multidão despedia-se com lenços, cânticos, orações e lágrimas. Foram momentos indescritíveis!
No desembarque, em Cacilhas, outra multidão jubilosa aguardava a Virgem de Fátima. As autoridades fizeram-se representar ao mais alto nível, salientando-se o Governador Civil de Setúbal, o Presidente e Vereadores da Câmara Municipal de Almada, o Comandante e Oficiais da Escola Naval e tantas outras entidades de relevo.
Por volta das 22 horas do dia 8 de dezembro, o andor entra na Igreja Matriz de Almada para a vigília da noite, saindo, no dia seguinte, após uma missa campal, para continuar a percorrer as terras pelo sul do Patriarcado de Lisboa e outras, sempre com multidões ávidas por venerar Nossa Senhora de Fátima, visitando, até ao dia 24 de dezembro de 1946, as terras do “Seixal, Barreiro, Moita do Ribatejo, Palmela, Setúbal, Montijo, Benavente, Salvaterra de Magos, Almeirim, Alpiarça, Chamusca, Golegã, Torres Novas, Entroncamento e Tomar”, regressando, no dia 24 dezembro, à Cova da Iria.
Estas jornadas de Nossa Senhora de Fátima tiveram momentos impressionantes, sempre recebida com muita fé, mesmo em terras em que a prática religiosa era mais diminuta. Foi um ressurgir do amor a Deus através da visita da Mãe de Deus às terras de Santa Maria, incrementando, no coração daquelas gentes, a alegria e o sentimento de uma maior crença, visíveis naqueles milhares de rostos que aclamavam, com orações, gestos e cânticos, em todos os lugares, a Virgem Maria.
Apareceu, no dia 18 de dezembro, após a missa na Igreja de Almeirim, uma enferma, muito magra, com sinais de grande sofrimento junto do andor de Nossa Senhora e com os olhos fixados na Imagem como que extasiada. Ao seu lado o filho, um jovem com um rosto revelador de uma forte angústia, mas com um olhar próprio de quem, com toda a alma, quer desagravar e pedir compaixão por alguém que cometeu atos maldosos. Eram a esposa e o filho de um dos que perseguiram e lançaram bombas na Cova da Iria, com certeza, um dos que dinamitou a Capelinha das Aparições. Ainda bem que aquele filho, criado num ambiente anticlerical, quis pedir perdão pelos atos ignóbeis praticados pelo seu progenitor.
A Imagem de Nossa Senhora passou por terras onde se queimaram igrejas e profanaram imagens, mas os descendentes desses homens desvairados e sem escrúpulos quiseram, naquele momento, louvar e aclamar a Senhora da Paz que está sempre disposta a perdoar.
Na passagem por Torres Novas, a Imagem foi acolhida, também, de uma forma grandiosa, pois foi um filho da terra, contemporâneo das Aparições e grande devoto e muito crente nos acontecimentos de Fátima, Gilberto Fernandes dos Santos, que, em 1919, encomendou e pagou, na Casa Fânzeres, em Braga, a Imagem que, naquele momento, passava na terra (Torres Novas) para onde tinha sido enviada, antes de entrar na Cova da Iria, pelo comboio, com todos os cuidados, tendo a gerência da Casa Fânzeres, remetendo, pelo correio ao Sr. Gilberto a guia de levantamento. Era natural, também, desta terra o saudoso Bispo de Évora, Dom Manuel Mendes da Conceição Santos, que teve a honra de benzer a primeira pedra da Basílica de Fátima.
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra…