Crónica de Salvador de Sousa
A Imagem Peregrina nº 1 foi inspirada e executada pelo mesmo artista, José Ferreira Thedim que entalhou a Imagem da Capela das Aparições, mas, para lhe dar as feições mais precisas sobre a Virgem de Fátima, encontrou-se com a Lúcia. Diz o historiador, Dr. Daniel Duarte: «é muito mais próxima das indicações da Lúcia do que a própria imagem da Capelinha das Aparições.» Percorreu, como tenho referido nas minhas últimas crónicas, os Continentes, dando a volta ao mundo várias vezes. A partir do ano de 2000, poucas vezes saiu da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, dando lugar às outras doze que, entretanto, foram esculpidas para dar continuidade a estas peregrinações pelo mundo.
No presente ano, vamos assistir a 14 saídas de algumas imagens peregrinas, exceto a nº 1, para os Estados Unidos da América, França, Nicarágua, Argentina, Itália, Chile, Países do Cáucaso, Espanha e Colômbia. Por exemplo, a Imagem nº 5 desloca-se à Diocese de Nanterre, em França, desde outubro de 2022 a agosto de 2023, com o objetivo de sensibilizar os jovens e não só para a Jornada Mundial da Juventude no nosso país, em agosto de 2023.
As 14 viagens previstas para este ano, numa altura em que Portugal acolhe um acontecimento de enorme relevância para o mundo católico “A Jornada Mundial da Juventude”, serão, com certeza, motivo de um aprofundamento, ainda maior, da mensagem de Fátima que o mundo tanto precisa. É um retomar das peregrinações dos anos 40 do século passado.
A Imagem Peregrina nº 1 que tantas marcas prodigiosas deixa por onde passa, logo que chegou dos Açores, como se relatou na crónica anterior, parte do aeroporto de Lisboa, no dia 10 de julho de 1948, em direção a Sevilha. Fazendo lembrar como o Cónego Carlos Azevedo diz: «aquela cena do Evangelho em que a Senhora parte apressada através das montanhas da Judeia para santificar João Batista ainda no seio de sua Mãe.» Logo a seguir refere: «É impossível descrever tudo o que se passa onde quer que a Imagem milagrosa chega. Sente-se imediatamente a presença do sobrenatural que a ninguém deixa indiferente.»
No Aeroporto foi acolhida por muitas centenas de pessoas que, apenas na véspera, souberam que Nossa Senhora de Fátima ia passar por aquela cidade a caminho de Ceuta e de Málaga. Acompanharam a Imagem, num cortejo automóvel, até à Igreja dos Padres Dominicanos de São Jacinto, situada em Sevilha, num percurso de 9 km.
A notícia da permanência da Imagem naquele local de culto, durante a tarde e a noite do dia 10 de junho, propagou-se de uma forma tão veloz que passados alguns instantes a população acorreu em massa, trazendo os seus enfermos, sendo as automacas em número insuficiente. Só a Cruz Vermelha transportou 2.852, alguns totalmente paralisados, mas inúmeros outros doentes foram levados pelos próprios familiares ou amigos que esperaram entre 5 a 8 horas para entrarem no templo para contemplar aquele ícone divinizado.
No dia 11 de junho, pelas 9 horas, deu-se a despedida que foi comovente e fortemente carinhosa pelo fervoroso povo de Sevilha que, entre cânticos de louvor e outras aclamações, deixou a Virgem de Fátima partir rumo a Ceuta, passando, ainda por Jerez de la Frontera e Algeciras.
No final desta crónica, transcrevo aquilo que o Cónego Carlos Azevedo relata no seu capítulo respeitante a certos acontecimentos prodigiosos passados nesta visita: «Sucedeu que ao sair o andor com a Virgem Peregrina das portas de São Jacinto, cerca de 50 pombas voltejaram continuamente à altura da cimalha do templo até que a Imagem entrou na viatura…
Deu-se uma cura extraordinária. Uma pobre criança atingida de mal Pott, completamente paralisada, foi levada por sua mãe ao aeroporto e ali ficou curada instantaneamente… O menino, porém, tiradas as ligaduras, andava e corria, fazendo a sua vida normal.» Este milagre sensibilizou toda aquela gente, incluindo o relator destas viagens e o restante clero. Ficaram estupefactos com mais aquela prodigiosa cura que Nossa Senhora, a nossa Mãe Bondosa, através do Seu Divino Filho, marcou a Sua Misericórdia e a Sua Bondade perante os Seus filhos prediletos.
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos…