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Fátima, sempre foi, já é e será sempre mais (90). A Imagem Peregrina em Ceuta e Málaga, passando por outras localidades

Texto de Salvador de Sousa

No dia 11 de julho de 1948 e não de junho, como escrevi, por lapso, na última crónica, pelas 9 horas, deu-se a despedida, em Sevilha, da Virgem de Fátima.

A Capitania Geral, de muito bom grado, cedeu uma viatura que transportou a prodigiosa Imagem até Jerez de la Frontera que foi acolhida pelos padres Dominicanos e por milhares de fiéis com a celebração de uma missa. Posteriormente, foi organizada uma procissão levando a Senhora de Fátima, num andor de prata, para a Igreja de S. Miguel, a mais espaçosa da cidade,

Da parte de tarde, o Sanatório de Santa Rosália recebeu a Virgem num ambiente emocionante em que “mais de duzentas criancinhas estendidas nos seus leitos brancos” olhavam aquela divinizada Imagem com os seus olhos de pureza ímpar e com um coração generoso e tantos outros enfermos, alguns transportados para aquele local em automacas. Receberam a Bênção do Santíssimo Sacramento num ambiente de grande fé e de esperança na sua recuperação. A Virgem, colocada numa espécie de altar improvisado, envolto pela Bandeira Nacional Portuguesa, era o foco de todas as atenções e de fervorosas preces, invocando a esperança da cura das suas enfermidades.

Nossa Senhora, mais uma vez, quis deixar marcas da Sua presença, sendo ouvida por Deus, operando duas curas extraordinárias que a Igreja, como sempre, ficou a estudar e a colher provas destas ações prodigiosas.

Seguidamente, a “Celeste Peregrina” foi transportada novamente para S. Miguel numa viatura da Polícia, toda engalanada com as mais belas rosas e de tecidos urdidos pela mestria, inspiração e fé daquela gente para, no dia seguinte, dia 12 de julho, às 9h, seguir para Algeciras, chegando às 14 h, após a paragem no Porto de Santa Maria onde estavam à Sua espera 40.000 pessoas que, entusiasticamente, queriam sentir a presença da Imagem de Fátima.

Seguiu para Ceuta num barco de guerra “Canovas del Castillo” oferecido pelo Alto-Comissário de Marrocos, General Varela, sendo a segunda vez que visita África após a chegada à Guiné no dia 23 de abril de 1948.

A cidade de Ceuta foi, no século XIV, uma das mais belas cidades da Mauritânia, sendo considerada como um centro comercial, mas também a chave da Cristandade com a grande influência dos portugueses após a sua conquista, por D. João I, em 21 de agosto de 1415. Duas construções Marianas do tempo merecem menção: a Capela de Santa Maria dos Anjos nas muralhas e a Igreja de Nossa Senhora de África, onde D. João I colocou a primeira Imagem de Nossa Senhora “ a Conquistadora” em terras africanas.

Como presenciou o Cónego Carlos de Azevedo, relator deste capítulo, o povo de Ceuta homenageou a Imagem das terras de Santa Maria de uma forma impressionante. Milhares de devotos, o Alto-comissário de Marrocos, General Varela, vestido com o seu uniforme oficial estavam no porto; “um cordão de tropas apresentou armas ao toque de clarins e do hino nacional espanhol ao mesmo tempo que se ouviam os velhos sinos lusitanos repicarem festivamente, como que trazendo-nos do além as vozes dos heroicos portugueses que outrora ali derramaram o sangue e deram a vida para «dilatarem a fé e o império.»” Acentua o Cónego Carlos Azevedo que nunca esqueceria a maneira como os povos de Ceuta falavam dos nossos antepassados, incluindo as tradições marianas dos portugueses, sendo levado por eles até à Igreja de Nossa Senhora de África a «venerar aquela relíquia preciosa do nosso lusitanismo.»

O barco de guerra “Canovas del Castillo” transportou a Imagem para Melilla. À chegada ao porto, dezenas de lanchas todas enfeitadas e gente por todo o lado esperava aquele enigmático ícone ao som de cânticos e aclamações. Foram horas de muita emoção e de entrega. O próprio Prelado de Málaga, D. Angel Herrera Oria não conseguiu reter as lágrimas que se soltaram em fio, enquanto os marinheiros passavam o andor da Virgem Peregrina dos seus ombros para os ombros dos Oficiais do Exército, sendo depois levada para a Igreja Matriz pelas autoridades civis e religiosas, sempre escoltada pela tropa. Neste ambiente de milagre que se gerava continuamente em todos os locais por onde a Imagem passasse, a peregrinação chegou a Málaga, à Catedral, regressando, no dia 17, de avião até Lisboa.

Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos…

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