Texto: Salvador de Sousa
A Imagem Peregrina continuou por terras de Moçambique a revelar a sua fenomenal presença; uma simples imagem a fazer vibrar tantos corações e convergir, nela, povos de diferentes credos.
A chegada à Cidade da Beira decorreu com toda a pompa e circunstância, tal como noutras paragens, estando à Sua espera o Presidente da Câmara que depôs aos pés de Nossa Senhora, simbolicamente, as chaves da cidade, gesto seguido com uma palavra de consagração, terminando da seguinte maneira: «Aceitai, Senhora, a homenagem da nossa consagração e guardai-nos em Vosso Coração Materno para todo o sempre.»
O cortejo seguiu para a Catedral onde o Bispo. D. Sebastião de Resende, dirigiu uma comovida saudação à Mãe de Deus. Os Maometanos manifestaram-se, lendo passagens do Alcorão na sua Mesquita, louvando a Virgem Santíssima.
Nossa Senhora percorreu toda a Diocese acompanhada pelo Venerando Prelado e por outras autoridades militares, civis e religiosas e por milhares de fiéis que vinham ao encontro da ilustre visitante em diversas localidades percorridas, como, por exemplo: «Missão de Manga, Vila Pery (Chimoio), Manica, Missão de Massequece, Angónia, Tete, Quelimane, Missão de Coalane, Namacurra, Mocuba, Ile, Alto Molócue, Gurué… Em Angónia veio ao encontro da Imagem o Bispo de Niassalândia.»
Saliento, nas paragens acima referidas, a atitude de um grupo de Maometanos que ornamentou a sua mesquita com lindas flores colocadas em arcos e cintilantes iluminuras, fazendo, ainda, questão de se integrarem no cortejo. Em Ile, vários doentes, incluindo leprosos, apareceram, acompanhados pelos seus profissionais de saúde.
Após a passagem pela localidade de Gurué, em que não faltaram tantos rituais “entre o túnel de luzes de archotes de capim” que milhares de indígenas quiseram louvar Nossa Senhora na visita à sua terra, a Imagem Peregrina vai ao encontro de Nampula, onde existe a primeira Catedral do Mundo dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Foi recebida em Mossuril, a Ilha de Moçambique, Lumbo e Porto Amélia(Pemba).
Segundo nos narra o Cónego Carlos de Azevedo, natural de Parada de Tibães, Braga, houve momentos indescritíveis, na Ilha de Moçambique, pelas homenagens prestadas pelos Islamitas e, na Província do Niassa, pela Comunidade Ismaelita de S. A. Agakan, sendo lida, no dia 8 de novembro de 1948, pelo Presidente, Gulamhussen R. Baugy, uma mensagem que vou transcrever algumas passagens: «A comunidade Ismaelita, absolutamente integrada na veneração a Nossa Senhora de Fátima, não podia deixar de, neste momento mais importante da história de Moçambique, prestar as mais sinceras homenagens à Peregrina e Veneranda Imagem que da Cova da Iria se desloca pelo mundo inteiro…»
Logo a seguir, implora: «Nossa Senhora de Fátima, abençoai a nossa cidade; …abençoai toda a humanidade e que esta trilhe o caminho da paz, fraternidade humana e elevação espiritual; …dai harmonia nesta terra entre todos os homens; …abençoai Portugal, país de ricos sentimentos, terra que mostrou ao mundo o caminho da civilização e da igualdade entre os homens… Nossa Senhora de Fátima, permiti que Vos ofereça esta modesta homenagem que, apesar de insignificante, saiu diretamente dos nossos corações, cheia de veneração e verdadeiro amor. »
A comunidade Sunni também quis prestar a sua homenagem, oferecendo a Nossa Senhora um colar de oiro e de pedras preciosas, proferindo, o seu presidente, Ismail Umar, a seguinte mensagem: «A Associação Maometana (Sunni) não pode, como povo português, deixar de associar-se a esta homenagem… Tão grande é o significado desta visita, quão grande é a fé do povo português na sua religião… E, neste momento sagrado, pedimos a Deus que venha fortificar e glorificar ainda mais o nosso Portugal. Como prova da nossa fé e respeito por todas as religiões, permita, Nossa Senhora de Fátima, que lhe ofereçamos este colar…»
Neste momento, tal como lemos acima, também devemos implorar a Nossa Senhora de Fátima para que interceda pela paz na Ucrânia, que o Presidente Putin se convença das atrocidades que está a mandar cometer num país independente. Tanta crueldade, tanto sangue derramado por um povo inocente que deseja, apenas, o seu cantinho, o seu querido país!
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos…