Júlia Fernandes é a grande vencedora das eleições autárquicas. Ganhou, de forma clara, em todas as freguesias do concelho.
Este resultado, em primeira instância, é mérito da candidata que conseguiu construir um percurso político sólido, o qual foi reconhecido pelos eleitores. Em segundo lugar, trata-se de uma vitória do PSD, que foi o único partido a ganhar Juntas de Freguesia.
Dos candidatos que se lhe opunham, destaque para Fernando Silva (Feitor), que conseguiu um resultado inesperado. Conseguiu o quinto melhor resultado do seu partido a nível nacional, o que faz com que possa reivindicar este resultado como uma vitória pessoal.
Em sentido contrário, o PS e o CDS foram os grandes derrotados. Notem que digo o PS e o CDS e não os seus candidatos, uma vez que considero que, neste caso, os partidos foram mais responsáveis do que os candidatos.
Se quisermos sair do óbvio sobre o que acima referi e passarmos a uma análise mais detalhada, quer as vitórias quer as derrotas ainda se tornam mais acentuadas.
As condições de partida tornavam estas eleições as mais difíceis para o PSD desde que chegou ao poder. Abria-se, assim, uma janela de oportunidade para a oposição: o PSD com 24 anos de desgaste, vários processos judiciais em curso, a mudança de candidato, uma vez que António Vilela já não podia concorrer por limitação de mandatos, e uma eventual fragilidade de Júlia Fernandes por ser mulher do antigo presidente de câmara e actual eurodeputado.
Num quadro em que a oposição tinha, de longe, as melhores condições nestes 24 anos para enfrentar o poder instalado, resolveram fazer aquilo que escrevi há vários meses: estenderam uma passadeira vermelha a Júlia Fernandes.
Evidentemente que a responsabilidade maior estava do lado do partido socialista, já que nas últimas duas eleições autárquicas ultrapassaram os 10.000 votos e elegeram três vereadores (resultados iniciados com Luís Filipe Silva na sua terceira candidatura, seguidos por José Morais logo na sua primeira candidatura).
Talvez as guerras internas, os jogos de sombras, as desconsiderações e algumas vezes as traições tenham afastado o seu melhor candidato. Apesar de ter em mãos um estudo de opinião que lhe abria perspectivas de lutar pela vitória, José Morais decidiu não repetir a candidatura e, assim, retirar-se, dando, com serenidade, espaço às alternativas internas.
Em relação ao futuro, fico com uma grande apreensão sobre a fragilidade da oposição.
Perante as condições menos fáceis para o PSD, o PS teve o seu pior resultado de sempre nestes 24 anos de poder social-democrata, perdeu dois dos seus três vereadores, foi derrotado em todas as freguesias, não elegeu nenhum presidente de Junta, só concorreu a seis das 33 Juntas e em cerca de metade das freguesias só o PSD apresentou listas.
A democracia faz-se com quem está no poder, mas também com uma oposição forte, sólida e actuante. Que uns e outros cumpram a sua função.
Glória aos vencedores, honra aos vencidos. O concelho precisa de todos.