Em pleno estado de emergência e com a pandemia ainda longe de estar controlada, o que se passou em Lisboa e noutros pontos do país foi lamentável e não encontro qualquer desculpa que venha justificar uma situação completamente absurda, fora de todas as regras impostas para o país, num período em que as pessoas nem poderiam circular, na sua própria viatura, de um concelho para outro. Que direitos são esses? Que democracia é essa? Autocarros a atravessarem concelhos para se deslocarem para Lisboa!
São intoleráveis estas exceções por um motivo que não era, a meu ver, prioritário. A UGT teve um grande civismo, comemorando o 1o de Maio através das redes sociais, protegendo os seus associados, evitando que eles se juntassem em grupos, arriscados a ser contaminados e a contaminar outros.
Parece impossível o nosso governo que apregoa, e bem, o distanciamento social, decretar uma aberração destas! Não me venham cá dizer que, com todas aquelas medições, fitas e marcas por todo o lado, nos passeios e acessos ao local, inclusivamente nos autocarros, que se cumpriram todas as normas de segurança! Estes ajuntamentos levam sempre a contactos sociais, mesmo inadvertidamente. Por isso, não são comportáveis numa situação de pandemia que tem matado muita gente e que um evento destes arrasta sempre pessoas idosas e outras, com certeza, com as tais doenças crónicas que, naquela aglomeração de muitas centenas de pessoas, ficaram sujeitas a ser contaminadas e ter um fim trágico. Por muito que haja da parte do governo elogios à forma como foram feitas as comemorações do 1o de Maio, a maior parte do povo português, com certeza, não fica convencida, pois só na Alameda Dom Afonso Henriques estava cerca de um milhar de pessoas, e, mesmo com a distribuição dos manifestantes por 72 filas, mais ou menos, para cumprirem as normas do distanciamento social, não é louvável uma atitude destas, pois isto levou, também, à concentração de pessoas à volta do relvado da Alameda e nos acessos.
Há algum estatuto especial para que estas forças políticas gozem destes privilégios? Observem o exemplo da Igreja que cancelou as celebrações do dia 13 de Maio; tem cumprido as normas estabelecidas para os funerais, para as Eucaristias, festas e tantas outras comemorações tão enraizadas na mente do povo crente deste país. Não é doloroso o falecimento de um familiar ou amigo em que, apenas 10 pessoas, nessa data, poderiam participar nos funerais e sem as devidas cerimónias fúnebres nas igrejas? A privação da deslocação de pessoas de um concelho para o outro para fins diversos, nesse período, não teria causado transtornos a muita gente? Não será doloroso para os cristãos não poderem entrar nas igrejas, basílicas, assistindo, presencialmente, aos atos litúrgicos que estão a ser, apenas, transmitidos pelas redes sociais? Há, neste país, imensos templos muito espaçosos e recintos amplos, como é o caso do Santuário de Fátima que, com as mesmas regras da manifestação do 1o de Maio, poderiam cumprir limites semelhantes!
O que a Igreja está a fazer é o aceitável, adotando essas medidas para bem da sociedade, abdicando daquilo que de mais sagrado há no coração dos cristãos. Por outro lado, tantas famílias que não podem visitar os seus entes queridos aos hospitais, aos lares, aos cuidados continuados… Apesar de tudo isso, o povo tem aceitado e tem cumprido. O que não se tolera é que um governo não veja tudo isso e ceda, injustamente, abrindo exceções que, do meu ponto de vista, são descabidas por muita importância que tenha o dia do trabalhador que somos todos nós.
O que se passou nas praias da Figueira da Foz em que as forças de segurança tiveram de atuar? Tudo isso não seria o reflexo dessa falta de respeito pelas regras, no 1o de Maio? Estas comemorações, a meu ver, criaram precedentes que se poderiam evitar.