Nesta crónica pretendo expor alguns factos e, quiçá, dar mais um contributo para a reflexão local sobre a “problemática das lombas”.
Quem já teve oportunidade de visitar cidades do centro e norte da Europa certamente constatou que a tendência é não haver lombas nas estradas, mesmo em cidades como Frankfurt, Zurique Estocolmo ou Amesterdão, onde existem milhares de bicicletas a circular.
Além disso, na maioria dos casos, as estradas e as ciclovias estão no mesmo nível, sendo apenas separadas através de linhas pintadas no piso.
Não deixa de ser curioso que este modelo, de carros e bicicletas a rodar lado a lado, venha de encontro a vários estudos ingleses que apontam, por estranho que pareça, para que quanto menor for a separação menos riscos há para os ciclistas.
A convivência entre o trânsito automóvel, ciclistas e peões é pacífica. A circulação está pensada por forma a incentivar o uso da bicicleta, mas sem prejudicar os automobilistas. Este é o ponto crucial: a convivência pacífica, privilegiando o uso da bicicleta mas sem “aborrecer” quem anda de carro.
Sempre que viajo, estou atento à política das terras que visito no que respeita à mobilidade urbana e, quando posso, aproveito para andar de bicicleta. Naturalmente, nesta fase em que se decidiu construir um número inusitado de lombas em Vila Verde, a minha atenção para as realidades noutras paragens é redobrada, principalmente em países que nos levam alguns anos de avanço nesta área.
Nestes dias de carnaval visitei três cidades alemãs: Frankfurt, Mainz e Heidelberg. Cidades com características distintas na dimensão, nas tradições e na sua arquitetura.
Mas estas três cidades, bem diferentes umas das outras, têm, em comum, milhares de bicicletas a circular e em nenhuma delas o trânsito é regulado por lombas. Andei várias dezenas de Km, a pé e de bicicleta, e não vi uma única lomba.
Chegados aqui, poderíamos então ser levados a dizer: “acabe-se com todas as lombas em Vila Verde”.
Não serei tão radical. Recordo que no centro e norte da Europa existe uma cultura de respeito pelos ciclistas e pelos peões que ainda está longe de ser uma realidade em Portugal.
Admito, pois, que por cá possa ser necessário a existência de algumas (poucas) lombas moderadoras de velocidade. Mas terá que ser sempre e apenas em zonas muito perigosas, devidamente assinaladas e em número e dimensão aceitáveis. O resto é tudo uma questão de sensibilização das populações para o assunto.
Continuo a achar que ainda se vai a tempo de serem corrigidas algumas das coisas menos bem conseguidas nesta intervenção urbanística.
Reconhecer os erros e corrigi-los não é um sinal de fraqueza. Bem pelo contrário, é uma virtude política digna de registo. Fica a dica!