Por Álvaro Santos
Sinto-me preocupado com os primeiros sinais nesta fase de desconfinamento. O comportamento que estamos a ter não me parece o mais adequado.
Se não modelarmos a nossa postura, não tardaremos a ter uma situação em que teremos de regressar ao confinamento. E isso seria muito, mas mesmo muito mau!
Mau para a sobrevivência física de muitos de nós, mau para todo o sistema de saúde e mau para a economia, com particular destaque para os sectores mais expostos ao encerramento social.
Depois do drama vivido durante o mês de Janeiro, ao iniciarmos agora a segunda fase do desconfinamento, há vários sinais preocupantes.
Só a responsabilidade de todos nos conduzirá a um não retrocesso.
Percebe-se que há quem não tenha interiorizado ainda o verdadeiro alcance do que é desconfinar com a pandemia ainda instalada.
Desconfinar, no contexto em que vivemos, permite-nos o retomar de várias actividades, mas obriga-nos a ser muito responsáveis nos comportamentos. Se assim não for, tudo voltará à estaca zero com custos elevadíssimos, principalmente para os mais débeis na saúde e para os mais frágeis economicamente.
O mês de Janeiro foi verdadeiramente terrível para Portugal. Os indicadores da pandemia colocaram-nos num lugar onde nenhum país queria estar. Éramos, então, o pior país do mundo, quer em novos casos, quer em número de mortes.
Primeiro, pelo Natal, saímos por aí a fazer compras e a confraternizar. O resultado foi o que se viu: uma vaga sem precedentes, com custos elevadíssimos em vidas, no sistema de saúde e na economia.
Logo de seguida, face à situação que criámos, a reacção dos portugueses foi exemplar. Rapidamente passamos do pior país do mundo para o país com os melhores números na Europa.
Assim tem sido o nosso comportamento colectivo, tipo “yo-yo”. Ora nos resguardamos totalmente, ora nos expomos por completo. Ora não queremos saber do vírus para nada, ora lhe temos imenso respeito (ou medo).
Esta é a nossa sina: ou oito, ou oitenta! Parece não haver lugar para o meio-termo.
Será que não é já tempo de sermos equilibrados no uso de alguma liberdade que nos é dada, fazendo um bom e sensato uso das regras, entretanto aligeiradas?
Não quero ser pessimista, mas se não mudarmos rapidamente a nossa atitude daqui a um mês a situação poderá ser novamente caótica.
Esperemos que haja um sobressalto cívico e que a responsabilidade colectiva se sobreponha a algum egoísmo individual.
Vivamos em liberdade, mas com as cautelas e o sentido de responsabilidade que a realidade nos impõe.
Apesar das poucas vacinas existentes, o processo de vacinação está a correr muito bem. Mas não nos iludamos, a estrada ainda é longa.
Que cada um de nós seja capaz de dar o seu contributo para, juntos, ultrapassarmos esta tormenta.